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Josias de Souza

Oposição tornou-se um latifúndio improdutivo

Josias de Souza

20/04/2019 01h43

O mais surpreendente na atual conjuntura política não é a atrapalhação do governo de Jair Bolsonaro. O que mais chama a atenção é a debilidade da oposição. Seria razoável esperar que, diante de um governo tão errático, seus adversários estivessem em situação mais confortável. Não é o que se verifica. Poucas vezes a oposição esteve tão estilhaçada como agora, apesar da inabilidade congênita do atual presidente da República.

O brasileiro que ainda encontra tempo para desperdiçar com o acompanhamento da política fica atônito. Olha para o governo e enxerga uma desorganização que conduz ao caos. Vira-se para a oposição e encontra uma desorientação que leva ao pântano. O caos angustia. Mas o pântano não oferece a esperança de uma alternativa. A imagem que traduz mais fielmente o momento que o Brasil atravessa é a de um beco sem saída.

Noutros tempos, a oposição era improdutiva, mas ocupava a cena provocando confusão. Hoje, Bolsonaro fabrica suas próprias crises. Nesse ambiente, o único empreendimento político que se fortalece em Brasília é o centrão, um grupo partidário amorfo, que gira em torno de privilégios, verbas e empregos públicos. O centrão não faz política, faz negócios. Virou um centrãozão ao transformar a oposição um puxadinho dos seus interesses.

A oposição celebra os tropeços legislativos do governo como um grande feito, sem se dar conta de que perderá o anabolizante do centrão assim que o grupo acertar com o Planalto o preço do seu apoio. Tudo se passa dentro da lei. O centrão segue as diretrizes da lei do mais forte. E Bolsonaro começa a entender que terá de fazer concessões à lei da selva. E a oposição se consolida como uma espécie de latifúndio improdutivo que ninguém consegue ocupar.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.