Sigilo na Previdência supõe que brasileiro é idiota
A Folha de S.Paulo revelou que o Ministério da Economia se recusa a divulgar os estudos e as planilhas que serviram de base para a elaboração da reforma da Previdência. Para uma proposta de emenda à Constituição que tramita no Congresso envolta numa névoa de polêmica, não poderia haver notícia pior.
Espantosa época essa nossa, em que o absurdo adquiriu uma doce, persuasiva, admirável naturalidade. Então o governo informa que todos terão de se sacrificar pelo bem do sistema previdenciário. Depois de elaborar o seu diagnóstico, prescreve um remédio amargo. E esconde a bula do paciente. É como se o governo, autoconvertido num circo, tivesse suprimido dos seus hábitos o respeito pelo contribuinte, que sustenta a bilheteria.
Um governo que elabora estudos e sonega os dados ao distinto público só age dessa forma porque está interessado em esconder alguma coisa. O secretário especial de Previdência, Rogério Marinho, diz que o sigilo só deve cair depois que a reforma for aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e enviada para a discussão sobre o mérito, numa outra comissão.
O bom desse tipo de lógica tecnocrática é que ela tem cara de lógica, rabo de lógica e grunhido de lógica, mas é besteirol em estado bruto. Então, quer dizer que os dados que fundamentaram a reforma da Previdência, que deveriam ter sido divulgados anteontem não podem se tornar públicos hoje, mas nada impede que sejam expostos amanhã. O mal dos governos é supor que a população é feita de idiotas.
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