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Josias de Souza

Gestão Bolsonaro faz mal à imagem dos militares

Josias de Souza

25/04/2019 20h51

Jair Bolsonaro elegeu-se presidente enrolado na bandeira da lei e da ordem. Na cabeça do eleitorado, sua imagem confundiu-se com a das Forças Armadas. Eleito como cabeça de uma chapa puro-sangue militar, o capitão compôs um governo  apinhado de companheiros de caserna. Cercou-se de generais no Planalto. Espalhou oficiais pela máquina pública. Descobre-se agora que a volta da farda ao poder não está fazendo bem à imagem dos militares.

Pesquisa inédita do Ibope divulgada pela revista Piauí revela que caiu 13 pontos percentuais a proporção de eleitores que acham boa ou ótima a ideia de um governo militar no Brasil. Em janeiro, quando Bolsonaro tomou posse, 62% dos brasileiros sonhavam com a presença dos militares no poder. Neste mês de abril, a taxa caiu para 49%. Ainda é alta. Mas o tombo é expressivo. No mesmo período, a popularidade de Bolsonaro despencou 14 pontos percentuais.

Impossível deixar de associar os dois movimentos. Prestes a entrar no seu quinto mês de existência, o governo Bolsonaro já apresenta pontos de ferrugem. Exibe sinais de um fenômeno que, em linguagem aeronáutica, é chamado de fadiga de materiais. Se o governo fosse um sucesso retumbante, a imagem dos militares iria às nuvens. Se a gestão é caótica, o prestígio da farda afunda junto com o do presidente.

Ironicamente, dois personagens da estima de Bolsonaro contribuem para estilhaçar a boa fama das Forças Armadas. O polemista Olavo de Carvalho, guru do presidente, dedica-se a desqualificar os militares que cercam Bolsonaro. Carlos Bolsonaro, o filho 'Zero Dois', realiza nas redes sociais uma campanha difamatória contra o vice, o general Hamilton Mourão.

"Nasci para ser militar", disse Bolsonaro dias atrás. Mourão já declarou que Bolsonaro é mais político do que militar. Logo, logo as Forças Armadas farão questão de recordar que o capitão deixou a carreira prematuramente, marcado por uma prisão de 15 dias por indisciplina.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.