Topo

Josias de Souza

Jair ‘Dilmo’ Bolsonaro revela-se liberal de gogó

Josias de Souza

29/04/2019 19h36

A frequência com que Jair Bolsonaro interfere na administração de estatais e bancos públicos deixa de cabelos eriçados os membros da equipe econômica do seu governo. Menos de uma semana depois de ordenar ao Banco do Brasil a suspensão de uma peça publicitária e demitir o diretor de marketing da instituição, o capitão sugeriu do nada a redução dos juros para empréstimos ao setor rural. Como se houvesse solução militar para problema econômico.

Ao tomar posse, em janeiro, o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, homem de confiança do ministro Paulo Guedes, da Economia, deixou claro no seu discurso que, sob Bolsonaro, a instituição não voltaria a ser usada para baixar artificialmente os juros, como fizera Dilma Rousseff, em 2012. "Juro é uma questão macroeconômica", disse Novaes na ocasião, ao esclarecer que a redução teria de ser precedida de um ajuste fiscal capaz de deter o avanço da dívida pública.

Pois bem. Bolsonaro torturou o auxiliar numa feira agropecuária ao apelar, entre risos, para que Novaes acionasse o "seu coração e seu patriotismo para que esses juros caiam um pouco mais." Ao tirar do ar uma campanha publicitária do Banco do Brasil porque se incomodou com a imagem de jovens tatuados e cabeludos, Bolsonaro jugou R$ 17 milhões na lata do lixo. Esse foi o custo da peça. A pregação anti-juros logo aparecerá na queda do valor de mercado dos papeis do banco.

Cultor do liberalismo econômico, o ministro Paulo Guedes não perde oportunidade para realçar que o intervencionismo de Dilma Rousseff levou o Brasil para o abismo. Para seu desassossego, Bolsonaro revela-se um liberal de gogó. Ao repetir no Banco do Brasil a interferência que tentara na Petrobras, o capitão inquieta seus auxiliares econômicos e faz jus ao apelido que recebeu dos parlamentares do centrão: "Dilmo."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.