Surge sob Bolsonaro a oposição extraparlamentar
Às voltas com dificuldades para formar algo que se pareça com uma base parlamentar de apoio ao governo, Jair Bolsonaro conseguiu a proeza de piorar uma conjuntura política que já é demasiadamente adversa. Graças ao presidente e à ala piromaníaca do seu governo, ressurgiu na cena política brasileira um fenômeno que andava anestesiado: a oposição extraparlamentar.
O governo do capitão mal entrou no seu quinto mês e já enfrenta os dois primeiros focos de contestação social. O corte orçamentário que o MEC impôs às universidades —sem discussão prévia nem explicação convincente— levou alunos e professores às ruas. Simultaneamente, o desmonte do aparato de fiscalização ambiental, o descaso com a Amazônia e o desapreço pelos índios produziu uma articulação inédita de oito ex-ministros do Meio Ambiente.
Os dois movimentos têm coisas em comum: nasceram à margem dos partidos e reúnem personagens de diferentes tendências ideológicas. O torniquete ideológico-financeiro do MEC empurrou para dentro das mesmas manifestações a esquerda e a direita universitária. A ruína ambiental juntou numa mesma sala de reunião ex-ministros de todos os governos anteriores —de Fernando Collor a Michel Temer.
Os protestos que brotam das universidades devem durar enquanto sobreviverem os cortes. A reunião dos ex-ministros do Meio Ambiente, marcada para esta quarta-feira, na USP, deve resultar num manifesto conjunto com potencial para reverberar no exterior. Os partidos de oposição virão a reboque, na sequência. Bolsonaro ainda não percebeu. Mas seu governo entrou num processo de autocombustão.
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