Bolsonaro entrega os anéis sem garantir os dedos
Polegares para o alto em sinal de positivo, Jair Bolsonaro concordou em levar ao balcão o Ministério do Desenvolvimento Regional. Topou dividi-lo ao meio para recriar duas pastas que havia fundido: Cidades e Integração Nacional. Aceitou também entregar os novos guichês a políticos do PP, a legenda que ocupa o topo do ranking de encrencados na Lava Jato; e do MDB, sócio majoritário do petismo no butim do petrolão. Com esses gestos, o capitão entregou os anéis à banda fisiológica do Congresso. Fez isso sem a garantia de que conseguirá salvar todos os dedos.
Bolsonaro vinha cedendo à lógica do toma-lá-dá-cá aos pouquinhos. Deve-se a rendição definitiva a uma costura dos presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. O problema é que o centrão, grupo de partidos dinheiristas do qual o PP faz parte, não ficou satisfeito com a forma como o presidente capitulou. Seus líderes se queixam de não ter participado da negociação. Mantidos à margem, ameaçam ignorar os acertos.
Ao admitir a transação ministerial, Bolsonaro fez um jogo de cena que exclui os partidos. Contou aos repórteres que Maia e Alcolumbre foram ao gabinete presidencial. Venderam o desmembramento do ministério como um bom começo para azeitar as relações do Planalto com o Legisaltivo. "Não crio óbice no tocante a isso", declarou o presidente. Pediu "apenas que o futuro ministro, caso seja criado este ministério [das Cidades], venha da indicação da Frente Parlamentar de Municípios, das cidades, tá certo?"
Maia apressou-se em procurar o deputado Herculano Passos (MDB-SP), presidente da Frente Parlamentar do Congresso em Defesa dos Municípios. Acertou com ele a indicação do ex-deputado Alexandre Baldy, do PP, para a poltrona de ministro das Cidades. Apadrinhado por Maia, Baldy já ocupou esse posto no governo de Michel Temer. Hoje, é secretário de Habitação do governo tucano de João Doria, em São Paulo. Baldy fez carreira em Goiás. São muito tênues, quase inexistentes seus vínculos com a cúpula nordestina do PP. O partido prefere o deputado Aguinaldo Ribeiro (PI).
A exemplo de Baldy, Ribeiro também já ocupou a poltrona de ministro das Cidades, só que no governo petista de Dilma Rousseff. Nessa época, a pasta era um feudo do PP. Ribeiro assumiu o posto em substituição ao correligionário Mário Negromonte (PP-BA), afastado sob denúncias de malfeitos.
Ex-secretário de Indústria e Comércio de Goiás na gestão do tucano Marconi Perillo, Baldy elegeu-se deputado federal em 2014 pelo PSDB. Migrou para o PTN, hoje rebatizado de Podemos. Estacionou no PP. Na sua passagem pela Câmara, tornou-se amigo de Rodrigo Maia. Que agora tenta devolvê-lo à Esplanada como um representante não apenas do PP, mas de uma espécie de consórcio dos partidos do centrão. Falta combinar com os interessados. Alcolumbre ambiciona indicar o outro ministro, para a Integração Nacional.
Por ora, prevalece a intenção do centrão de impor derrotas ao governo. O próximo embate será travado na votação da medida provisória editada por Bolsonaro para reduzir o número de ministérios de 29 para 22. Relator da MP, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), participou da reunião com Bolsonaro. Entre os ajustes combinados está a manutenção do Coaf no Ministério da Justiça, chefiado por Sergio Moro.
Alheio aos entendimentos, o centrão aliou-se à oposição para arrancar o Coaf das mãos de Moro, devolvendo o órgão para o Ministério da Economia. Se centrão prevalecer, Bolsonaro perderá um dedo. Se não conseguir virar o jogo, perderá os outros dedos na tramitação da reforma da Previdência. Nessa matéria, o centrão não cogita votar 100% contra. Mas pode atrasar a tramitação e entregar uma reforma mixuruca, longe do alívio fiscal pretendido por Paulo Guedes: R$ 1 trilhão em dez anos.
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