Sem foro, Jucá vive o que chamava de ‘suruba’
Incorporado pelo eleitor de Roraima à tribo dos sem-foro, Romero Jucá foi denunciado nesta terça-feira pela força-tarefa de Curitiba. É acusado de beliscar propina de R$ 1 milhão na Transpetro, uma subsidiária da Petrobras então presidida pelo amigo Sergio Machado. A novidade é a mais eloquente evidência de que falharam todas as tentativas de Jucá e seus assemelhados de melar a Lava Jato.
Vale a pena rever a transcrição da conversa vadia que Romero Jucá manteve com Sérgio Machado em 2016, antes do impeachment de Dilma Rousseff:
— É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional, disse Sérgio Machado.
— Com o Supremo, com tudo, respondeu Jucá, dando asas ao sonho peemedebista de passar uma régua nas apurações da Lava Jato.
— Com tudo, aí parava tudo, animou-se Machado, cujas traficâncias já se encontravam sob o crivo do então juiz Sergio Moro.
— É. Delimitava onde está, pronto!, concordou Jucá, em cujos calcanhares de vidro a Procuradoria começava a agarrar.
Hoje, Temer é um colecionador de inquéritos e ações penais. Já passou um par de vezes pela cadeia, em prisões temporárias. Machado é um delator bem-sucedido. Não colocou os pés num xilindró. Desfruta gostosamente do exílio luxuoso de sua mansão em Fortaleza. E Jucá se prepara para experimentar os rigores da primeira instância curitibana.
O próprio Jucá definiu o que está por vir numa declaração de abril de 2017. Num instante em que o Supremo Tribunal Federal estava prestes a limitar a abrangência do foro privilegiado, os caciques do Senado realizaram um movimento cenográfico. Colocaram para andar um projeto de lei que acabava com a prerrogativa de foro para todas as autoridades, exceto os chefes dos Três Poderes.
Jucá disse na época: "Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada." Pois bem. Ex-líder de todos os governos que se instalaram no país desde a chegada das caravelas, Jucá será apresentado aos rigores de uma "suruba" que já encarcerou outros companheiros de (P)MDB. Noves fora Temer, que não chegou a esquentar lugar na prisão, encontram-se em cana Sergio Cabral, Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima.
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