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Josias de Souza

‘Reforma da Previdência não é a bala de prata’

Josias de Souza

07/06/2019 00h49

"Se vai ter uma reforma da Previdência, não faz sentido excluir Estados e municípios", declarou ao blog o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB). "Por que vamos gastar energia duas vezes", ele perguntou. "Por que fazer outro embate nos Estados?".

Casagrande assinou a carta conjunta de governadores pedindo ao Congresso que mantenha na proposta todos os entes da federação. A despeito do gesto, manifestou sua descrença quanto aos efeitos revigorantes da reforma sobre a economia.

"A reforma é necessária, mas não se pode considerar que é a bala de prata. A reforma não é a bala de prata. O governo precisa avançar em outras providências para devolver dinamismo à Economia. Do contrário, arrisca-se a repetir o fiasco da reforma trabalhista. A discussão era a mesma. Dizia-se que o país iria destravar, haveria emprego. Houve apenas frustração." Vai abaixo a entrevista:

— Assinou a carta de apoio à reforma da Previdência? Sim, assinei.

— O diretório nacional do seu partido, o PSB, não havia rejeitado a proposta? Meu partido rejeitou a proposta que saiu da Comissão de Constituição e Justiça. Avaliará, ao final, quando a proposta for votada na Comissão Especial. Só então o partido decidirá como vai votar em plenário.

— Sua intenção é a de manter o apoio à proposta? Apoio a proposta com mudanças. Sou contra mexer no BPC [Benefício de Prestação Continuada] e na aposentadoria rural. A exigência de 40 anos de contribuição para a aposentadoria integral no regime geral de Previdência me parece excessiva. Se essas coisas mudarem, não há razões para deixar de apoiar.

— A situação previdenciária no Estado do Espírito Santo é muito grave? Sim, é grave. Temos mais inativos do que ativos —a proporção de 0,9 ativos para cada servidor inativo. O Estado é equilibrado, mas carrega esse peso previdenciário enorme. Neste ano vamos desembolsar R$ 2,350 bilhões de aporte. É um volume grande para um Estado como o Espírito Santo.

— Considera a reforma previdenciária vital? Eu sobrevivo sem ela, mas ela é importante.

— Está tentando convencer o seu partido a apoiar a reforma? Manifestei minha opinião na reunião do diretório. Perguntei: se não é essa proposta, qual seria a outra? Sabemos que alguma coisa tem que ser feita. O diretório não tomou a decisão de fechar questão contra. Posicionou-se contra a proposta saída da CCJ, mas avaliará o resultado da comissão especial.

— Por que Estados devem ser incluídos na reforma? Se vai ter uma reforma da Previdência, não faz sentido excluir Estados e municípios. Mesmo quem é contra um ponto ou outro da reforma —como eu—, sabendo que alguma coisa será votado e aprovado, essas regras precisam valer para todos. A uniformidade ajuda  a administrar.

— De qualquer maneira os governadores e seus Estados terão de se ajustar à reforma que for aprovada, não? É exatamente isso. Por que  vamos gastar energia duas vezes? Por que fazer outro embate no Estado? Independentemente de termos posições contrárias a certos pontos da proposta, é preciso compreender que aquilo que for aprovado precisa valer para os servidores públicos de todos os níveis. O ambiente no serviço publico é muito semelhante na União e nos Estados. Condições de trabalho no serviço público são semelhantes no Brasil todo.

— O presidente da comissão sobre Previdência, deputado Marcelo Ramos, disse que falta aos governadortes uma sandália da humildade. O que acha? Ele reclamou do [João] Doria, que deu uma declaração ruim mesmo. Se você quer agregar, não pode espalhar brasa. Sob pena de queimar o pé. Se queremos que as regras sejam iguais no Brasil todo, temos que tratar do tema com humildade, o deputado tem razão.

— Os deputados estão dizendo que carregam o piano e, nos Estados, ninguém quer deixar suas digitais na reforma previdenciária. Procede? Não é bem assim. Os governadores estão manifestando suas opiniões. É lógico que governador não vota no Congresso. Esse debate é menor. Estabalecer regra uniforme para os serviços públicos é bom para o Brasil. Ajuda a organizar a administração pública. Tem que ser uma politica nacional

— A bancada do PSB votará a favor? Uma parte vai votar contra, outra a favor. Depende da lógica que sair da comissão especial.

— Acha que a reforma da Previdêncioa tem potencial para reativar economia? A reforma é necessária, mas não se pode considerar que é a bala de prata. O governo precisa avançar em outras providências para devolver dinamismo à Economia. Do contrário, arrisca-se a repetir o fiasco da reforma trabalhista. A discussão era a mesma. Dizia-se que o país iria destravar, haveria emprego. Houve apenas frustração.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.