‘Eu sou responsável pela aprovação da reforma’
Autor da emenda que propôs a exclusão de estados e municípios do texto da reforma da Previdência, o deputado Daniel Coelho (Cidadania-PE) se orgulha da iniciativa: "Eu me considero responsável pela aprovação da reforma. Sem essa emenda, ela não seria aprovada" Em entrevista ao blog, o deputado evocou Jair Bolsonaro: "Reforma boa é a reforma que passsa no Congresso."
Leia abaixo a entrevista:
— Por que apresentou a emenda que tira estados e municípios da reforma? Minha emenda cumpriu o objetivo ao trazer os governadores para o debate. Passamos a ter um mapa da votação. Ficou claro que, com Estados e municípios, a emenda não seria aprovada. Os governadores fazem jogo duplo.
— Quantos votos seriam perdidos se os servidores estaduais e municipais fossem incluídos na reforma? Cerca de 80 votos.
— Todos do Nordeste? A maioria do Nordeste. Mas tem votos de outras regiões se incluirmos os representantes das polícias, dos professores. No Nordeste, perderíamos quase todos os votos.
— Por que os parlamentares do Nordeste votariam contra? Porque PT, PSB, PDT e PCdoB fecharam questão para votar contra a reforma. O cara que quer votar a favor fica receoso porque o governador faz campanha contra no Estado.
— Quer dizer que os governadores vêm a Brasília, declaram-se a favor e, de volta ao Estado, fazem campanha contra a reforma? Vou te contar o que acontece em Pernambuco, meu Estado. Tem panfletagem contra a reforma na porta das escolas, com a anuência do governador [Paulo Câmara do PSB].
— O governador Paulo Câmara assinou carta de apoio à reforma, não? Ele assinou. Mas o João Campos, filho do Eduardo Campos, queridinho do governador, candidato a prefeito da capital, está fazendo uma caravana contra a reforma no Estado. Então, o governador promove uma caravana antirreforma e assina carta a favor. Isso não vale apenas para Pernambuco. Vamos encontrar esse comportamento no Nordeste inteiro. Mas há problemas em outros lugares.
— Onde? São Paulo, por exemplo, João Doria também faz jogo duplo. Prefeito, ele enviou um projeto de reforma previdenciária à Câmara Municipal. Candidato a govermador, retirou o projeto. Agora, Doria governa São Paulo como candidato à Presidência da República. E não quer passar pelo desgaste de aprovar a reforma da Previdência na Assembleia Legislativa. Todo mundo aqui percebe o jogo de Doria.
— Para devolver estados e municípios à emenda da reforma da Previdência os governadores teriam que fazer o quê? Eles teriam que apoiar a reforma de verdade, transformando a proposta em algo consensual. Precisariam providenciar os 308 votos necessários para aprovar. Também existe a possibilidade de incluir no texto algum mecanismo que facilite a aprovação das reformas dos estados nas assembleias legislativas. Nós já estamos ficando com o desgaste do regime geral da Previdência, que atinge a população inteira. O Congresso está tendo muita coragem ao assumir isso.
— O governo participa desse entendimento? O governo está sem base [de apoio]. O que não nos impede de resolver 90% do problema da Previdência. Faremos algo que, nos últimos 30 anos, ninguém teve coragem de fazer. Se as Assembleias Legislativas não tiverem condições de aprovar a reforma nos estados, então tem que fechar as portas.
— Não se arrepende de ter apresentado a emenda? Vou correr o risco de dizer algo que pode ser entendido como arrogante: Eu me considero responsável pela aprovação da reforma da Previdência. Sem essa emenda, a reforma não seria aprovada. Essa reforma não é uma coisa fácil. Eu discordo de quase tudo o que Bolsonaro diz. Mas ele tem uma frase, dita há muito tempo: "Reforma boa é a reforma que passa." Sem estados e municípios, essa reforma tem chances muito maiores de ser aprovada. Será aprovada.
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