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Josias de Souza

Antes de ir ao Senado, Moro ensaia no Ratinho

Josias de Souza

17/06/2019 23h25

Cada vez mais próximo das urnas de 2022 do que da poltrona de ministro do Supremo que deve ser desocupada em novembro de 2020, quando o decano Celso de Mello se aposentar, Sergio Moro vai se tornando um típico político brasileiro —do tipo que o Barão de Itararé definiria como um sujeito que vive às claras, aproveitando as gemas e sem desprezar as cascas.

Aos pouquinhos, Moro torna claras como a gema as explicações sobre as mensagens que saltam do celular para as manchetes. Começou dizendo que não havia nos diálogos com a turma da Lava Jato "qualquer anormalidade" capaz de colocar em dúvida sua isenção na época em que dava expediente como juiz. No final de semana, como qualquer político em apuros, exigia a apresentação do material a uma "autoridade independente", para a checagem de sua autenticidade.

Se a Lava Jato ensinou alguma coisa a Moro é que não se faz uma omelete sem quebrar os ovos. Durante quatro anos e meio, o então juiz da 13ª Vara de Curitiba tomou gosto pelo crec-crec das cascas que ele ajudou a quebrar. Agora, Moro sente na pele o ruído. Ele se esforça para abafar o barulhinho da própria casca se quebrando.

Moro já não é o mesmo ex-juiz de ontem. E vive a síndrome do que está por vir. Torcedor do Maringá, vestiu a camisa do Flamengo na semana passada. Na quarta-feira, dará explicações à Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Nesta segunda-feira, ensaiou a língua numa gravação do Programa do Ratinho. O ex-juiz, não há dúvida, virou um típico político brasileiro. Grosso modo falando.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.