Bancada do despudor tenta salvar seu privilégio
A crise deu aos deputados e senadores uma súbita sensação de utilidade. É como se a estagnação econômica e a ruína fiscal cutucassem a consciência dos congressistas, intimando-os a agir. Nunca houve no Congresso tanta gente disposta a aprovar uma reforma da Previdência. É decrescente o grupo dos que contestam a necessidade da reforma. Discute-se no máximo o tamanho da mexida.
Mas há um problema. Invariavelmente, os parlamentares vinculados a corporações tendem a encontrar soluções para os problemas apenas na Previdência dos outros. Na reta final da tramitação na Câmara, intensificaram-se os lobbies. E como na política os males vêm sempre para pior, os próprios políticos deflagraram um movimento de autopreteção.
Um grupo suprapartidário se move nos subterrâneos para amolecer as regras de aposentadoria dos parlamentares. Hoje, deputados e senadores desfrutam de uma maravilha chamada PSSC —Plano de Seguridade Social dos Congressistas. Com 35 anos de contribuição, pode-se amealhar uma aposentadoria de mais de R$ 33 mil. A reforma acabou com esse plano especial e instituiu regras de transição draconianas para quem já desfruta da mamata.
O diabo é que o pedaço mais despudorado da corporação parlamentar resiste à ideia de largar o osso. Nada de novo sob o Sol. Os privilegiados sempre enxergam seus privilégios como direitos. Por isso tentam mantê-los. O privilégio, quando é institucionalizado, vira religião. Espera-se que até o dia da votação essa bancada dos desavergonhados perceba que a sociedade já não se dispõe a dizer amém.
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