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Josias de Souza

Onyx tornou-se vítima da maldição da Casa Civil

Josias de Souza

20/06/2019 01h34

Onyx Lorenzoni teve uma subida meteórica. Devoto de primeira hora do "mito", saltou do baixo clero da Câmara para o cardinalato palaciano. Em seis meses de governo, começa a fazer o caminho de volta. Enfrenta prematuramente a maldição da Casa Civil. Dividia a articulação política com Santos Cruz, um general da reserva. Foi integralmente substituído na função por Luiz Eduardo Ramos, um general da ativa.

Às voltas com a necessidade de aprovar a reforma da Previdência Bolsonaro ainda ostenta a incômoda posição de comandante sem tropa no Congresso. Não consegue votos nem para manter em pé seus decretos. Munido de autocritérios, Onyx considera-se o articulador mais habilidoso que Onyx conhece. Mas tudo o que conseguiu foi transformar a articulação política do Planalto num latifúndio improdutivo que Rodrigo Maia invadiu.

O presidente da Câmara apropriou-se da própria reforma da Previdência. E costura com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, uma agenda legislativa destinada a reacender as fornalhas da economia, distanciando o Legislativo da "usina de crises" do Executivo.

Ex-assessor legislativo do Exército, o general Ramos é mais habilidoso do que Onyx. Mas seu sucesso na nova função é improvável, pois ainda não surgiu talento capaz de domar os ímpetos de Jair Bolsonaro. É provável que o novo articulador seja convertido a médio prazo em mais um fusível que o capitão desligará do quadro. O afastamento de Santos Cruz mostrou que, sob Bolsonaro, a amizade e a farda não asseguram estabilidade no emprego.

Quanto à Casa Civil de Onyx, além de perder a atribuição de articular o Planalto com o Legislativo, a pasta foi privada de realizar a análise jurídica de decretos presidenciais, projetos de lei e medidas provisórias. Passará a cuidar do PPI, o programa de parcerias e investimentos do governo. Quer dizer: Onyx foi deslocado da vitrine para os fundões administrativos do governo.

Na era petista, a Casa Civil foi ocupada por seis personagens. Dois estão na cadeia (Palocci e Dirceu), uma foi fisgada na Operação Zelotes (Erenice), outra virou ré na Lava Jato (Gleisi), outro foi enviado ao ostracismo (Mercadante) e uma última sofreu impeachment e virou cuidadora de netos (Dilma). Sob Temer, a Casa Civil abrigou matéria-prima para a Polícia Federal (Padilha). Onyx, que já tem as digitais num caso de caixa dois, deveria se benzer.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.