Bolsonaro coloca a reeleição à frente do trabalho
Jair Bolsonaro informou na campanha presidencial que, eleito, pegaria em lanças por uma reforma política que proibisse a reeleição. Acreditou quem quis. Na bica de completar seis meses de mandato, o capitão está de volta ao palanque. "Se tiver uma boa reforma política, eu posso até jogar fora a possibilidade de reeleição. Agora, se não tiver e se o povo quiser, estamos aí para continuar por mais quatro anos", ele declarou, cercado de eleitores evangélicos, no sacrossanto feriado de Corpus Christi.
Fernando Henrique Cardoso e Lula também diziam que não queriam a reeleição. Depois, desejaram-na ardentemente. Não se pode impedir que Bolsonaro cultive o mesmo desejo. A questão é saber se ele chegará a 2022 em condição de reivindicar a recondução ao trono. O "mito" foi eleito para fazer um serviço que durará quatro anos. Deveria entregar probidade e prosperidade. No momento, ninguém sabe onde está o Queiroz. E o PIB de 2019 ensaia um crescimento inferior a 1%.
Bolsonaro ainda dispõe de três anos, seis meses e uma semana para retirar a sua Presidência do caminho do brejo. Pode conseguir. Ou não. A única certeza disponível por ora é a seguinte: a revelação prematura de um projeto de poder solitário e longevo é o caminho mais curto entre a previsão de um fracasso e a sua realização. Para entregar a encomenda que recebeu de 57,8 milhões de eleitores, o capitão precisará de humildade e método. A ambição vem depois. Bem mais tarde.
Amigo e conselheiro de Bolsonaro, o general Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI, costuma dizer que ninguém pode exigir que o novo governo resolva em meio ano os problemas que se acumularam ao longo de 20 anos. Verdade. Seria injusto culpar o presidente pelo passado. Mas já se pode atribuir à nova gestão o custo da perda de tempo que compromete o futuro com o "show de besteiras" de que falou o general Santos Cruz, recém-expurgado do palco. Adiantar o relógio da sucessão presidencial é mais uma bobagem do espetáculo precário que inquieta a plateia.
A experiência mostra que o sucesso de um presidente depende do bem-estar que ele é capaz de propiciar. A popularidade é uma consequência natural da prosperidade. Se conseguir unir as duas coisas, Bolsonaro chegará em 2022 ao Éden que todo presidente ambiciona. A reeleição lhe cairá no colo como um fruto maduro. Entretanto, se mantiver aberta a usina de crises do Planalto, o trono logo lhe parecerá tão confortável quanto uma cadeira elétrica.
Bolsonaro ainda não percebeu. Mas o único lugar onde a reeleição vem antes do trabalho é nas páginas do dicionário.
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