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Josias de Souza

Bolsonaro perde o nexo no escândalo do laranjal

Josias de Souza

01/07/2019 20h38

Na política, quem escolhe o momento exato economiza muito tempo. No escândalo do laranjal, Jair Bolsonaro dormiu no ponto. Sob o pretexto de que era necessário aguardar o avanço das investigações, concedeu sobrevida a Marcelo Álvaro Antônio, um ministro cuja reputação estava jurada de morte. O inquérito avançou. E o tempo de que o presidente dispunha para afastar o titular do Turismo já não existe. Só existe o passar do tempo.

A Polícia Federal cercou, por assim dizer, o representante do PSL na Esplanada. Indiciou Mateus Von Rondon, atual assessor especial do ministro; Roberto Silva Soares, ex-coordenador de sua campanha a deputado federal em 2018; e Haissander Souza de Paula, ex-funcionário do seu gabinete na Câmara. Acusou-os de três crimes: falsidade ideológica eleitoral, emprego ilícito do fundo eleitoral e associação criminosa. Encrencaram-se também quatro candidatas-laranja do PSL mineiro.

Restou a Marcelo Álvaro Antônio, mandachuva do PSL de Minas Gerais na ocasião em que verbas públicas irrigaram postulações cítricas, lançar mão de uma desculpa do tipo "eu não sabia". Quanto a Bolsonaro, não há justificativa possível para a demora em afastar o auxiliar. Poderia até ter optado por um afastamento temporário. Mas optou pela única saída inaceitável para um presidente da República: a hesitação.

Segundo o porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros, Bolsonaro não cogita demitir o ministro do Turismo —ao menos por enquanto. Na véspera, ao assumir no Twitter o papel de tradutor das manifestações deste domingo, Bolsonaro resumira a "mensagem" do asfalto para "todas as autoridades". Listou três itens. Eis o segundo: "Combatam a corrupção".

Ao manter o Marcelo Álvaro Antônio no comando do Ministério do Turismo, Bolsonaro perde o nexo. O presidente parece atormentado pela síndrome do que está por vir. No Rio de Janeiro, algumas prestações de contas eleitorais do PSL também exalam um aroma cítrico. Ali, quem preside a legenda é o senador Flávio Bolsonaro, o Zero Um.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.