Topo

Josias de Souza

Antipetismo trocou Bolsonaro pelo acostamento

Josias de Souza

08/07/2019 12h22

Jair Bolsonaro meteu-se num círculo viciado que apequena sua Presidência. Para adular o bolsonarismo convicto, adotou uma retórica que afugentou o antipetismo que ajudara a levá-lo à Presidência. Com a popularidade em queda, exacerbou o discurso, potencializando o isolamento. Condenou-se a dialogar com um terço do eleitorado que o aprova. Sua popularidade, que era de 32% em abril, oscilou para 33% aos seis meses de governo, informa o Datafolha.

Bolsonaro virou presidente numa eleição em que o voto das pessoas que pensam como ele foi anabolizado pelo pedaço do eleitorado que não suportava a ideia de devolver o PT ao poder. No volante, não foi capaz de exibir um itinerário que estimulasse o voto de exclusão a se manter a bordo do seu governo. O antipetismo foi ao acostamento.

Para compreender adequadamente o que se passa, é preciso prestar atenção no seguinte dado: para 61% dos entrevistados, Bolsonaro fez menos do que se esperava dele no exercício da Presidência. Embora ninguém ignore que o capitão herdou um abacaxi, o discurso da herança maldita vai perdendo o prazo de validade. Impaciente, a plateia começa a cobrar resultados.

O apequenamento de Bolsonaro foi alcançado com método. O presidente começou a encolher já no dia da posse. Podendo pregar a união nacional —mesmo que da boca pra fora—, preferiu atiçar a polarização. Ao discursar no parlatório do Planalto, disse que "o povo começou a se libertar do socialismo". Não percebera que a União Soviética acabara havia 28 anos. Com sorte, talvez note que a ideologia é o caminho mais longo entre um projeto e sua realização.

O processo de encolhimento foi rápido. A reversão depende basicamente da eficiência governamental e, sobretudo, da recuperação da economia. Coisa que não acontece do dia para a noite.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.