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Josias de Souza

Carluxo volta a se estranhar com general Heleno

Josias de Souza

10/07/2019 16h13

O general Augusto Heleno diz uma coisa sobre a segurança que o seu GSI é capaz de prover ao presidente da República e o vereador Carlos Bolsonaro acredita no contrário. Em depoimento na Câmara, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional disse que a proteção oferecida ao presidente é confiável. Atribuiu as preocupações do filho Zero Dois de Jair Bolsonaro à facada que seu pai levou na campanha de 2018. "Ele é extremamente traumatizado". Carluxo correu ao Twitter para rebater o general. Esclareceu que é o futuro que o traumatiza, não o passado.

"Sou tremendamente traumatizado com o que pode acontecer com um presidente honesto em uma nação historicamente administrada por bandidos e seus fiéis acessórios!", anotou o filho de Bolsonaro. Faltou explicar se "bandidos" e "acessórios" são referências a integrantes de administrações passadas ou se Carluxo enxerga fantasmas também ao redor do seu pai.

O filho de Bolsonaro agarrou nos calcanhares do chefe do GSI desde a apreensão, na Espanha, de 39 quilos de cocaína com um militar da Força Aérea Brasileira que integrava a equipe de apoio à viagem presidencial para a reunião do G20. Carluxo dissera no início do mês que não anda com os seguranças oferecidos pelo GSI a familiares do presidente. Por quê? "Estão subordinados a algo que não acredito." Ele acrescentou: "Tenho gritado em vão há meses internamente e infelizmente sou ignorado."

Heleno vinha evitando comentar as críticas de Carluxo. Mas não teve como se esquivar do tema ao prestar esclarecimentos numa audiência pública na Câmara. Ele disse que o GSI cuida da segurança dos presidentes da República há décadas, sem incidentes. Durante a campanha, a proteção a Bolsonaro estava sob a responsabilidade da Polícia Federal. Mas o general tampouco responsabilizou os agentes federais pelo atentado contra o então candidato do PSL.

"O que acontece muitas vezes com uma autoridade como o presidente Bolsonaro e numa campanha a presidente da República? Ele desrespeita as regras traçadas pela sua segurança. Isso é normal. E hoje o presidente faz coisas que são arriscadas", declarou. Carluxo achou necessário realçar um detalhe: "Lembrando que foi um ex-integrante do PSOL que tentou assassinar Jair Bolsonaro no dia 6 de setembro de 2018", anotou no Twitter.

Ainda durante a audiência pública, o general Heleno deu de ombros para a influência de um ídolo da família Bolsonaro, o polemista Olavo de Carvalho. "Se eu encontrar na rua, não sei quem é. Então, eu não vou dedicar o meu tempo a Olavo de Carvalho. Meu tempo é precioso. Nunca dediquei o meu tempo a Olavo de Carvalho. E vou continuar não me dedicando. Ele não me atinge em nada. Eu não vou ficar gastando tempo a cada bobagem que falam."

O penúltimo general que comprou briga com o guru da Virgínia, Santos Cruz, foi fritado em fogo brando antes de ser arremessado por Jair Bolsonaro da pasta da Secretaria de Governo para o olho da rua.

Quanto ao caso da cocaína, Heleno lamentou que o militar que transportava a droga tenha fugido ao padrão da FAB: "É lamentável o fato, principalmente porque as tripulações que trabalham e transitam nas aeronaves do GTE (Grupo de Transporte Especial), não só do presidente e do vice-presidente, são escolhidos a dedo, é um trabalho extremamente consciente da sua grandiosidade, da sua responsabilidade."

O general teve a oportunidade de lamentar também o valor do soldo dos militares. "Eu tenho vergonha do que eu recebo no Exército, isso eu tenho vergonha. Mostrar para o meu filho que eu sou general do Exército e ganho, líquido, R$ 19 mil, eu tenho vergonha. Agora, do dinheiro que eu recebia no COB (R$ 55 mil)? Eu ganhava honestamente", afirmou. Com Carluxo e Olavo no seu encalço, Heleno pode reivindicar um adicional de insalubridade.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.