Dissidência racional à esquerda é lufada de ar
O principal fenômeno político do ano tem sido, até agora, o presidencialismo sem coalizão. Jair Bolsonaro terceirizou ao próprio legislativo a formação de maioria parlamentar. E Rodrigo Maia, presidente da Câmara, escorou-se nos velhos tecelões do centrão para oferecer ao mercado uma governabilidade sem governo. O Legislativo agora diz ter vontade própria. Quase tudo mudou, exceto o pedágio fisiológico das emendas, que continua.
Nesse contexto, surgiu uma outra novidade, talvez a mais genuína entre todas: uma dissidência na oposição. A esquerda, de mãos dadas com o desequilíbrio fiscal, votou contra a reforma. PT, PCdoB e PSOL foram 100% contra. Num rasgo de independência, oito dos 27 deputados do PDT e 11 dos 32 do PSB votaram a favor da mexida previdenciária. As legendas ameaçam punir os sublevados.
Entre os deputados sujeitos a punição estão duas promessas da nova geração da política: Tábata Amaral, do PDT, e Felipe Rigoni, do PSB. Assim como os demais dissidentes, votaram a favor da racionalidade fiscal sem receber verbas em troca. "Ser de esquerda não pode significar que vamos ser contra um projeto que de fato pode tornar o Brasil mais inclusivo e desenvolvido", diz Tábata. "Estudei o texto. Ele tem muitos defeitos, mas, no geral, é muito melhor do que pior", afirma Rigoni.
Se o oposicionismo vazio fosse comparado a uma fornalha de ideias, a retórica das cúpulas das legendas de esquerda seria a fuligem. Oposição sem contraproposta não é política, é o exercício do espírito de porco. Os dissidentes deveriam se antecipar às punições, abandonando PDT e PSB. Juntos comporiam uma frente de 18 deputados, quase do mesmo tamanho do PDT, que seria reduzido a 19 cadeiras, e do PSB, que passaria a ter 21 assentos. Em meio aos homens de negócio do centrão e aos órfãos de Lula, o surgimento de uma esquerda racional é uma lufada de ar fresco.
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