Senado dirá que tipo de país o Brasil deseja ser
No último mês de abril, quando Jair Bolsonaro afastou Sérgio Amaral, um respeitado diplomata, do comando da embaixada brasileira em Washington, ninguém entendeu. Compreendeu-se menos ainda a demora do presidente em indicar um novo embaixador. Descobre-se agora o motivo. O posto mais importante do Itamaraty no exterior está vago há cerca de três meses porque o capitão esperava pelo aniversário do seu filho Zero Três.
Eduardo Bolsonaro completou 35 anos na quarta-feira. Alcançou a idade mínima exigida para ocupar uma embaixada. E o presidente da República passou a ameaçar o país com a indicação do filho para o posto de embaixador do Brasil nos Estados Unidos. O garoto é amigo dos filhos do Trump, disse Bolsonaro. Ele fala inglês e espanhol.
O próprio garoto apresentou suas credenciais numa entrevista: Já fiz intercâmbio, disse o Zero Três. Já fritei hambúrguer lá nos Estados Unidos. A amizade e a habilidade no manuseio da chapa de fritar hamburguer qualificam Eduardo Bolsonaro como piada, não como embaixador do Brasil em Washington. Para esse posto exige-se mais, muito mais.
Cabe ao Senado aprovar indicações para embaixadas. Se Bolsonaro confirmar a opção pelo nepotismo, os 81 senadores não julgarão apenas a desqualificação de Eduardo Bolsonaro. Eles avaliarão o próprio Senado. No limite, emitirão um juízo sobre o tipo de país que o Brasil deseja ser. Não parece razoável que um país inteiro tenha que passar vergonha por um presidente que não se dá ao respeito. De duas uma: ou o Senado eleva sua estatura ou rebaixa o Brasil à condição de uma autocracia bananeira.
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