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Josias de Souza

PDT rejeita a dissidência, mas tolera a suspeição

Josias de Souza

17/07/2019 21h22

O PDT suspendeu a filiação de sua bancada de dissidentes. O anúncio foi feito em termos severos. Até que a legenda decida qual será a punição de Tábata Amaral e dos outros sete que votaram a favor da reforma da Previdência, "todos os oito parlamentares estão com as atividades partidárias, de representação na Câmara, suspensas. Nenhum desses oito pode falar ou ter função em nome do partido."

Coube a Carlos Lupi pronunciar essas palavras ácidas. A função dele no PDT é a de presidente. O personagem arrasta pela conjuntura política uma corrente de suspeições. Mas ninguém cogita suspendê-lo da sua função de dirigente partidário profissional. Ao contrário, todos toleram, sob atmosfera de franca cumplicidade, a gestão cartorial de Lupi.

Na campanha presidencial de 2018, o então candidato Ciro Gomes disse numa entrevista ao Jornal Nacional que Lupi tem a sua "confiança cega". William Bonner recitou a ficha corrida do presidente do PDT: responde a inquérito no Supremo sobre possível compra de apoio político para Dilma, em 2014; foi delatado como beneficiário de mesada de R$ 100 mil no esquema de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral; é réu por improbidade administrativa em Brasília; a Comissão de Ética do Planalto recomendou sua demissão quando ocupava o cargo de ministro do Trabalho sob Dilma, o que acabou acontecendo.

Ciro e os demais dirigentes do PDT continuam convivendo normalmente com a suspeição. Mas querem o escalpo do pedaço da legenda que ousou se preocupar com o equilíbrio fiscal do Estado. Esconde-se embaixo do pretexto da fidelidade partidária a hipocrisia. Inverteram-se os valores. É como se os dirigentes do PDT avaliassem que, em meio ao breu ideológico, todos os pardos são gatos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.