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Josias de Souza

Câmara evita lipoaspiração de R$ 460 bi na reforma

Josias de Souza

08/08/2019 00h18

A densa maioria que se formou na Câmara em torno da emenda constitucional da reforma da Previdência bloqueou as oito tentativas de modificar o texto aprovado em primeiro turno no mês passado. Na votação do segundo turno, evitou-se que a proposta fosse lipoaspirada em cerca de R$ 460 bilhões. Algo que reduziria a economia que o governo pretende obter nos próximos dez anos de R$ 933,5 bilhões para apenas R$ 473,5 bilhões.

O trabalho da Câmara foi encerrado às 22h desta quarta-feira (7). A cena final foi marcada por uma coreografia que resume bem o que se passou durante a tramitação da proposta. Formulador da reforma, o ministro Paulo Guedes, da Economia, entrou no plenário da Câmara, escalou os degraus que levam à Mesa diretora e abraçou o presidente da Casa, Rodrigo Maia, principal articulador da costura política que levou à formação da maioria reformista.

Há dois meses, irritado com mudanças que conspiravam contra sua pretensão de obter uma reforma que assegurasse a economia emblemática de pelo menos R$ 1 trilhão em dez anos, Paulo Guedes zangou-se: "Abortaram a Nova Previdência", ele disse. O abraço do ministro no presidente da Câmara foi uma espécie de reconhecimento de que o parto realizado pelos deputados terminou saindo melhor do que a encomenda —apesar do custo embutido na distribuição de emendas orçamentárias.

O patriotismo reformista custará ao Tesouro, até dezembro, algo como R$ 40 milhões por voto. Nas palavras de um dos patriotas, a verba destina-se a custear nas bases eleitorais dos parlamentares obras e projetos capazes de atenuar eventuais desgastes políticos. Considerando-se que o Congresso já foi movido a mensalões e petrolões, a relação custo-benefício é, agora, mais favorável.

Nesta quinta-feira, a emenda da reforma segue para o Senado. Começa um novo ciclo de articulações. Para não perder o hábito, Jair Bolsonaro injetou no processo um ruído indesejável: a indicação do filho Eduardo Bolsonaro para o posto de embaixador do Brasil em Washington. Quando formalizada, a escolha do Zero Três terá de ser referendada pelo Senado, em tramitação simultânea com a reforma previdenciária. Estima-se que o governo prevalecerá nos dois casos. Mas o custo deve aumentar.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.