Arrependimento é virtude que o capitão não tem
Ao ser indagado sobre a possibilidade de desistir de indicar o filho 03 para a embaixada em Washington, Bolsonaro fez uma analogia esdrúxula. Ele disse ao autor da pergunta: "Você, por exemplo, está noivo. A noiva é virgem. Vai que você descobre que ela está grávida. Você desiste do casamento? Tudo é possível." A declaração é meio esquisita. Mas com algum esforço pode ser aproveitada.
Quando um presidente que diz defender a meritocracia indica um filho neófito em diplomacia para comandar a embaixada no principal posto do Itamaraty no exterior, compromete sua própria reputação. Para ficar na analogia de Bolsonaro, reputação é mais ou menos como virgindade. Não dá segunda safra. Perdeu está perdida.
Bolsonaro disse que não quer submeter o filho "a um fracasso". Lorota. Uma rejeição do nome de Eduardo Bolsonaro no Senado seria um fiasco sobretudo para o presidente. E haverá questionamento também no Supremo Tribunal Federal —o mesmo Supremo que o agora candidato a embaixador disse que bastaria "um cabo e um soldado" para fechar. Não precisaria nem um jipe, disse Eduardo Bolsonaro.
O arrependimento é uma das mais nobres virtudes. E Bolsonaro não é do tipo que se arrepende. Melhor, portanto, adiar os fogos até que as intenções do presidente fiquem mais claras. Por ora, até onde a vista alcança, as negociações para emplacar o filho-embaixador prosseguem. Se fossem vivos, os homens da caverna talvez se arrependessem. Se soubessem o que poderia acontecer num país chamado Brasil, talvez não tivessem saído da caverna.
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