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Josias de Souza

Merkel oferece aula de pragmatismo a Bolsonaro

Josias de Souza

26/08/2019 20h40

Na guerra retórica travada entre Jair Bolsonaro e o presidente francês Emmanoel Macron, quem se saiu melhor até aqui foi a premiê da Alemanha, Angela Merkel. Ela deu uma aula de pragmatismo aos dois bufões ambientais. Na reunião do G7, no final de semana, o comportamento de Merkel foi decisivo para desarmar espíritos. Isso foi atestado inclusive por autoridades brasileiras escaladas para descobrir o que se passou no encontro.

Verificou-se que Angela Merkel, de saída, agiu para retirar da mesa a tese de Macron segundo a qual a crise ambiental brasileira envenenaria o acordo comercial da União Europeia com o Mercosul. Angela Merkel fez mais: disse que era preciso envolver o Brasil no debate amazônico. Informou que telefonaria para Bolsonaro. Lero vai, lero vem, Macron ficou isolado. A coisa evoluiu, então, para a proposta de ajuda dos países ricos para deter as queimadas. Coisa de 20 milhões de euros —ou R$ 90 milhões. Uma mixaria.

Só a alemanha suspendeu dias atrás o repasse de R$ 150 milhões para projetos ambientais no Brasil. A Noruega reteve o envio de outros R$ 133 milhões. Seja como for, os R$ 90 milhões do G-7 seriam bem-vindos. Mas eis que entrou em cena novamente Bolsonaro. Refugou a oferta sob o argumento de que ela esconde interesses inconfessáveis em relação à Amazônia. Paradoxalmente, o capitão aceita ajuda dos Estados Unidos e de Israel.

Bolsonaro tem muito a aprender. Angela Merkel teria todas as razões para se vingar do capitão, que já a tratou com desrespeito. Mas sabe que não deve privar a economia alemã, desaquecida, da oportunidade de ter acesso ao Mercosul. Seu gesto seria uma oportunidade para Bolsonaro fazer uma autocrítica e abrir negociação para reaver a verba ambiental que Alemanha e Noruega suspenderam. Mas Bolsonaro não costuma perder a oportunidade de perder oportunidades.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.