Moro reage à fritura em evento sobre corrupção
Submetido por Jair Bolsonaro a um processo de fritura, Sergio Moro mexeu-se dentro da frigideira. Organizou no Ministério da Justiça um evento sobre corrupção. Na abertura, pronunciou um discurso recheado de mensagens ao capitão. Soou como se desejasse traçar linhas das quais não cogita recuar. Em certos trechos, passou a impressão de que cobrava compromissos. Noutros, insinuou que o descumprimento do que foi ajustado pode custar caro (ouça a íntegra acima).
Moro disse obviedades que talvez não precisasse realçar se não estivesse mergulhado no óleo quente. Por exemplo: "Governantes devem agir em prol dos governados". Sob pena de retirar "a fé que as pessoas têm no próprio sistema representativo e na própria democracia." Por isso, "o fim da impunidade e da grande corrupção é algo sempre importante a ser perseguido."
Ao cumprimentar as autoridades presentes, Moro alongou-se nos elogios a Maurício Valeixo, diretor-geral da Polícia Federal. Um personagem que Bolsonaro ameaçou demitir. "Se eu trocar hoje, qual o problema? Está na lei que eu que indico e não o Sergio Moro", dissera o presidente aos repórteres na semana passada, rasgando a "carta branca" que dera ao ex-juiz da Lava Jato para compor sua equipe.
"Cumprimento especial ao diretor Maurício Valeixo", afirmou Moro. "Tem feito um trabalho extraordinário à frente da Polícia Federal". Faltou explicar se o ministro inclui sob o guarda-chuva do adjetivo "extraordinário" a barricada que Valeixo ergueu na PF para impedir que Bolsonaro acomode na superintendência do órgão no Rio de Janeiro um delegado retirado do bolso do colete: Alexandre Silva Saraiva, atual superintendente no Amazonas.
Num instante em que o inquilino do Planalto desfigura o Coaf e exibe disposição para intervir na Receita Federal e na PF, Moro recordou: "O presidente Jair Bolsonaro tem um compromisso com a prevenção e o combate à corrupção. Esse foi um dos temas centrais que me levaram a aceitar esse convite [para ser ministro]. Creio que o governo tem avançado nessa área. Claro que, às vezes, há alguns reveses. Mas nós temos avançado no enfrentamento da corrupção."
Moro se absteve de citar exemplos de reveses e de avanços. Preferiu realçar a importância que atribui a uma repressão eficaz de corruptos. "Nada manda uma mensagem mais forte contra a corrupção do que o fim da impunidade, especialmente da grande corrupção, porque a impunidade da grande corrupção de fato esboroa [desmorona] os fundamentos da nossa democracia."
Dias atrás, Moro visitou o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Posicionou-se contra uma liminar expedida por Toffoli no mês passado para suspender todos os processos judiciais recheados com dados detalhados fornecidos pelo Coaf e pelo Fisco sem autorização judicial. A decisão de Toffoli foi tomada a partir de recurso da defesa do senador Flávio Bolsonaro, beneficiado com o trancamento de inquérito sobre lavagem de dinheiro que corre no Rio de Janeiro.
Ao saber da incursão de Moro no Supremo, Bolsonaro ficou tiririca. No discurso que abriu o evento sobre corrupção, Moro declarou, sem citar nomes: "Trabalhamos em um regime em que todos devem ser considerados iguais". Foi nesse ponto que o ministro enganchou na sua fala a obviedade segundo a qual "governantes devem agir em prol dos governados".
Encontra-se sobre a mesa de Bolsonaro, à espera de veto ou de sanção, a lei sobre abuso de autoridades. Moro entregou ao presidente documento sugerindo o veto de artigos que inibem a ação de juízes, procuradores e investigadores. Nesse contexto, o ministro enganchou no seu discurso meia dúzia de palavas sobre a necessidade de combater o que chamou de "corrupção dos vigilantes".
"Temos que nos preocupar em evitar que o policial se corrompa, que o juiz se corrompa, que o Ministério Público se corrompa, que o auditor se corrompa", declarou Moro. "Para poder enfentar a corrupção, nós precisamos ter integridade máxima dentro dos órgãos de controle e fiscalização. […] Impossível combater a corrupção sendo corrupto. Simplesmente não funciona."
Enquanto Moro discursava no Ministério da Justiça, a Segunda Turma do Supremo anulava uma das sentenças que ele emitiu quando dava expediente na 13ª Vara Federal de Curitiba. Por 3 votos a 1, foi para o beleléu a condenação do ex-presidente da Petrobras Adelmir Bendine. Foi a primeria vez que a Suprema Corte derrubou uma condenação imposta por Moro. Cabe recurso ao plenário.
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