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Josias de Souza

Bolsonaro prova que erro pode ser aperfeiçoado

Josias de Souza

03/09/2019 00h18

A decisão de Jair Bolsonaro de falar na abertura da Assembleia Geral da ONU sobre Amazônia é uma evidência de que há males que vêm para pior. Um acerto dificilmente pode ser melhorado. Mas não há sob Bolsonaro erro que não possa ser aperfeiçoado. A despeito da nova cirurgia a que será submetido, o presidente disse que irá à ONU mesmo que seja sentado numa cadeira de rodas ou deitado numa maca.

Bolsonaro antecipou as linhas gerais do discurso que pretende fazer na ONU. Quer mostrar, com "muito patriotismo", que a Amazônia "foi praticamente vendida para o mundo". Deseja deixar claro que não vai "aceitar esmola de país nenhum a pretexto de preservar a Amazônia". Resistirá porque é por meio desse auxílio externo que, segundo ele, a floresta "está sendo loteada e vendida."

Por trás desse discurso do presidente Bolsonaro estão velhas obsessões do ex-deputado Bolsonaro. Hoje, o presidente se queixa do excesso de reservas indígenas. Em abril de 1998, quando ainda era um deputado do baixíssimo clero, disse na Câmara que "a cavalaria brasileira foi muito incompetente. "Competente", segundo ele, "foi a Cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país."

Desde que assumiu o trono, Bolsonaro tenta conciliar duas exigências conflitantes: ser Bolsonaro e exibir o bom senso que a Presidência exige do seu ocupante. Quando fala de Amazônia, o presidente se enche de tambores e clarins. Se disser na ONU 10% do que anuncia, Bolsonaro mostrará que é errando que se aprende… A errar. Fornecerá material para a retaliações contra exportadores brasileiros. Ficará demonstrado que o patriotismo também pode ser uma forma de suicídio comercial.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.