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Josias de Souza

Penúria torna o reajuste do Bolsa Voto um acinte

Josias de Souza

03/09/2019 22h24

Quando há pouca farinha, é preciso prestar atenção redobrada nos personagens que disputam o pirão ao redor da mesa. Com o Estado quebrado, os cortes orçamentários do governo alcançam inclusive programas sociais e educacionais. Num esforço para diminuir o abismo fiscal, tenta-se colocar de pé um conjunto de reformas econômicas duras de roer, a começar pela mexida na Previdência.

Pois bem, em meio a essa atmosfera de sufoco, Executivo e Legislativo discutem o aumento do Fundo Eleitoral. A eleição, como se sabe, tem um preço. Mas seria conveniente levar a mão à consciência. As eleições gerais de 2018 custaram R$ 1,7 bilhão. Para as eleições municipais do próximo ano, os parlamentares querem elevar o Bolsa Voto para R$ 3,7 bilhões.

O governo propôs R$ 2,5 bilhões. Pegou mal. E a pasta da Economia insinua que houve erro. O valor correto seria de R$ 1,8 bilhão. A hipótese de os partidos concordarem com essa cifra é nula. Alega-se que a eleição municipal, em mais de 5.500 municípios, seria mais cara do que a eleição que envolveu a escolha do presidente da República, governadores de estado, deputados estaduais, deputados federais e parte dos senadores.

Parece tudo muito questionável. Sobretudo depois que Jair Bolsoaro chegou à Presidência da Repíublica quase sem dinheiro, com um partido mixuruca e surfando nas redes sociais. Numa eleição municipal, há, sim, todas as condições para baratear uma campanha eleitoral. Isso agora não é mais uma opção, é um imperativo fiscal. Os parlamentares precisam abandonar essa antiga disposição para suportar na própria pele todos os sacrifícios que o déficit público pode financiar.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.