Bolsonaro fez do desfile seu parque de diversões
Com a popularidade em declínio e sob ataque dos próprios aliados nas redes sociais, Jair Bolsonaro foi ao desfile de 7 de Setembro como quem vai a um parque de diversões. Os guarda-costas tiveram de molhar o paletó. Com a felicidade a pino, o capitão deu de ombros para as normas de segurança. Queria ver e, sobretudo, ser visto.
No ápice da ostentação, Bolsonaro se autoconverteu na atração principal da parada militar. Deslizou do palanque de autoridades para o asfalto. Interrompeu a evolução de tanques e soldados para desfilar sua alegria. Faixa presidencial no peito, saboreou algo como dois minutos de arquibancadas. Filtrada pelos órgãos de segurança, a plateia gritou "mito".
Alguns ministros acompanharam Bolsonaro no ataque ao asfalto. Entre eles Sergio Moro, cujo prestígio, segundo o Datafolha, é 25 pontos maior do que o do chefe. Súbito, o público gritou "Moro, Moro…" E as cotoveladas que o ex-juiz da Lava Jato recebe do capitão nos bastidores foram substituídas por abraços. As mãos de Bolsonaro atraíram Moro rapidamente para o seu lado.
Foi como se Bolsonaro quisesse enviar um pedido de perdão à tropa das redes sociais, em guerra contra a indicação de Augusto Aras para o posto de procurador-geral da República. Escolhido à revelia de Moro, Aras é visto pela força-tarefa de Curitiba como adversário. O nome foi mal recebido na bolha bolsonarista da internet. O capitão passou a ser chamado de "traidor" no seu habitat natural.
Outras três cenas marcaram o desfile. Na chegada em carro aberto, acompanhado por Carlos Bolsonaro, seu filho 02, o presidente mandou parar o Rolls-Royce presidencial para chamar uma criança. Dividiu os instantes inaugurais de sua manhã no parque com Ivo César Gonzalez, de nove anos.
No palanque, Bolsonaro expôs uma segunda imagem em alto relevo. Exibiu-se ao lado do apresentador Silvio Santos e do autoproclamado bispo Edir Macedo, donos do SBT e da TV Record. Enquanto esteve em cena, a dupla ganhou mais destaque do que o vice-presidente Hamilton Mourão. Até a primeira-dama Michelle e a caçula Laura Bolsonaro, 8, foram enviadas para a retaguarda.
Nem o SBT nem a Record transmitiram o desfile em seus canais abertos. Apenas a TV estatal transmitiu ao vivo. Suprema ironia: entre as emissoras privadas, ironicamente, só a TV Globo, considerada por Bolsonaro como "inimiga", injetou flashs do divertimento do presidente em sua programação matinal.
Terminado o desfile, Bolsonaro não cabia em si. Tampouco cabia dentro do automóvel fechado que o cerimonial estacionou defronte do palanque para conduzi-lo de volta ao Alvorada. Para desespero dos seguranças, o capitão dependurou-se do lado de fora do carro, com a porta aberta.
Produziu-se, então, a derradeira cena marcante. Com uma mão, Bolsonaro agarrava-se ao automóvel. Com a outra, acenava para a plateia. Foi com o se o presidente desejasse esticar a atmosfera de parque de diversões. Degustou cada segundo. Até o último centímetro de arquibancada.
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