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Josias de Souza

Teor da delação da OAS constrange abafadores

Josias de Souza

16/09/2019 15h27

A homologação tardia da delação do empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, revela que o único escândalo novo na Lava Jato é o esforço para rever punições e abafar investigações. No mais, não há propriamente coisa nova. Há apenas novas erupções de um vulcão de corrupção que produziu uma rotina. Nela, a lava de uma crise se mistura à lama da crise seguinte, que arrasta os corruptos de sempre e corruptores que, por alguma razão, não mereceram a atenção devida na encrenca anterior.

Deixando-se de lado o varejão dos desvios, onde ficam o tríplex do Guarujá, o caixa dois eleitoral e as propinas suprapartidárias, a crônica relatada por Léo Pinheiro reforça o pedaço do enredo em que o Itamaraty e o BNDES foram privatizados e colocados a reboque das empreiteiras. O delator sustenta que Lula atuou como garoto propaganda da OAS em países como Costa Rica, Chile e Guiné Equatorial. E empurrou a empreiteira para uma obra deficitária na Bolívia.

Quem se recorda da delação da Odebrecht, verá que o ex-presidente da OAS ofereceu a investigadores, procuradores e magistrados mais do mesmo: viagens de Lula ao estrangeiro, sob a alegação de que faria palestras hipotéticas e milionárias, sempre bancadas pelas construtoras, em meio a conversas com autoridades locais sobre obras de interesse das patrocinadoras dos lábios do grão-mestre do PT.

Se for realizada, a investigação sobre a OAS puxará mais um fio do mesmo novelo em que se enrolou a Odebrecht. A coisa costuma levar à abertura de canteiros de obras, um território em que máquinas pesadas deslizam sobre a lama. Sempre que esses canteiros foram inaugurados, o BNDES saiu emprestando dinheiro dos brasileiros a países estrangeiros, tomou calotes e deixou dívidas para a administrações futuras lançarem na coluna de prejuízos.

No momento, a principal serventia do detalhamento da delação de Léo Pinheiro é a de tornar mais constrangedor o esforço para abafar as apurações.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.