Aras aproxima Jair Bolsonaro de Renan Calheiros
Há muitos campeões do arcaísmo na política brasileira. Renan Calheiros (MDB-AL), depois da aposentadoria de José Sarney, é o campeão dos campeões. Também há na política nacional muitos pretensos paladinos da modernidade. Jair Bolsonaro (PSL) é apenas o penúltimo. A indicação de Augusto Aras para o posto de procurador-geral da República, aprovada com folgas no Senado, produziu um fenômeno usual na política: a junção dos interesses do arcaico com as conveniências da modernidade presumida. Aras aproximou Bolsonaro de Renan. Uniu-os a simpatia pela ideia de impor freios ao ímpeto investigativo inaugurado pela Operação Lava Jato.
Antes apenas sussurrada, a harmonização de propósitos foi, por assim dizer, escancarada na frente das crianças durante a sabatina que precedeu a aprovação do nome de Augusto Aras na Comissão de Constituição e Justiça. Assim como Bolsonaro, Renan reuniu-se reservadamente com o futuro procurador-geral. E não conseguiu conter o seu entusiasmo diante das câmeras. Antes de endereçar perguntas ao sabatinado, derramou-se em elogios ao inquilino do Palácio do Planalto:
"Sou oposição, integro esse campo com muita satisfação. Sou um crítico do governo, mas tenho isenção suficiente para reconhecer que, de todos os atos do presidente Jair Bolsonaro, talvez o mais acertado e significativo seja o da indicação do doutor Augusto Aras para exercer esse honroso posto de chefe da Procuradoria-Geral da República."
Renan caprichou também na exaltação de Aras. Enalteceu-lhe a "probidade", a "honradez", a "competência". Declarou que, considerando-se o seu desempenho como procurador, Aras "foi sempre o mais competente para exercer esse cargo" de chefe do Ministério Público Federal. Renan realçou seu júbilo: "Participo dessa sabatina com muito orgulho".
Freguês de caderneta da Lava Jato, Renan convive no Senado com Flávio Bolsonaro, o Zero Um, investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por suspeita de peculato e lavagem de dinheiro. Interessa ao campeão do arcaísmo e ao primogênito do hipotético modernizador aplicar um sedativo no aparato fiscalizatório do Estado. E Augusto Aras parece disposto a corresponder a essa expectativa.
Durante a sabatina, o futuro procurador-geral declarou que a Lava Jato foi um "marco importante" no combate à corrupção. Mas esclareceu que os métodos da força-tarefa de Curitiba precisam ser aperfeiçoados. Numa resposta em que comentou os excessos atribuídos a Deltan Dallagnol, disse que faltou "cabelos brancos" ao grupo de jovens procuradores que ele coordenou. Defendeu a restauração do "princípio da impessoalidade".
O jovem Tancredi, personagem do romance O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa, traduzia o mesmo objetivo perseguido por Bolsonaro e Renan na sua célebre frase: "Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude". Sob o pretexto de ajustar a Lava Jato, deseja-se inibir as punições, não aperfeiçoar as investigações.
A ideia não é que as coisas fiquem como estão, é que melhorem sempre para os encrencados, mesmo que piorem para os brasileiros que se animavam com a perspectiva de fim do ciclo de impunidade. Será animada a gestão de Augusto Aras à frente da Procuradoria-Geral da República.
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