Prisão é palco ideal para novo espetáculo de Lula
Pessoas normais morrem uma única vez. Só atores como Lula são reincidentes. Retirante, nasceu para a vida como operário. Renasceu como sindicalista. Após reinventar-se como político, foi sepultado em três derrotas presidenciais. Na quarta disputa, reencarnou na pele de presidente. Sobreviveu ao mensalão, reelegendo-se. Fez e refez a sucessora, a despeito do petrolão. Condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro, Lula tenta se reinventar.
O presidiário petista concluiu que, no momento, a cadeia é o melhor palco para encenar seu novo ato. Embora esteja preso há um ano e meio, Lula já não cumpre pena faz tempo. Ele dá espetáculos. Tornou-se uma espécie de presidiário-ostentação. Concede na cadeia entrevistas em série. Vinha ensaiando uma troca de figurino. Planejara a migração gradativa do papel de vítima de hipotéticas injustiças para o de candidato a um terceiro mandato presidencial em 2022. Algo que depende da boa vontade do Supremo Tribunal Federal.
À espera de uma decisão da Segunda Turma do Supremo sobre o pedido de suspeição que protocolou contra Sergio Moro, Lula ordenara aos seus advogados que se abstivessem de reivindicar seu dirieto ao regime semiaberto, que evoluiria para a prisão domiciliar. Súbito, a força-tarefa de Curitiba atravessou na encenação do preso um pedido de progressão do regime. E Lula foi forçado a improvisar a pantomima da resistência.
"Não troco minha dignidade pela minha liberdade", repetiu o detento. "Quero que saibam que não aceito barganhar meus direitos e minha liberdade". Há dois equívocos no palavrório de Lula, um em cada frase. Só se pode trocar aquilo que se tem. E Lula, alvejado por nove denúncias, meia dúzia das quais já convertidas em ações penais, não parece dispor de um estoque de dignidade. A progressão de regime prisional está prevista na Lei de Execuções Penais. Não é algo que se possa barganhar. Trata-se de um imperativo legal.
A encenação de Lula foi potencializada pelas mensagens surrupiadas por ladrões na operação de busca e apreensão que realizaram nos celulares da turna da Lava Jato. O problema é que apenas três dos nove processos que carbonizaram a reputação de Lula passaram por Curitiba. Assim, a parte mais complicada do teatro será encontrar um ponto de convergência entre o personagem que Lula enxerga no espelho e aquilo que passou a representar na vida real.
Hoje, Lula é um ficha suja. Está inelegível até 2035, quando terá 89 anos. Para recuperar os direitos políticos, precisa que o Supremo anule a sentença do caso do tríplex e que o juiz Luiz Bonat, novo titular da 13ª Vara de Curitiba, se comporte como um anti-Sergio Moro ao julgar novamente o caso. Terá de torcer, de resto, para que não surja nenhuma nova condenação em segunda instância nos próximos três anos. Coisa complicada para um colecionador de ações penais.
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