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Josias de Souza

Para Villas Bôas, STF flerta com convulsão social

Josias de Souza

17/10/2019 02h22

O Supremo Tribunal Federal inicia nesta quinta-feira o julgamento das ações que podem levar à revisão da regra que permitiu a prisão de condenados na segunda instância. Horas antes do início da sessão, o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, plugou-se no Twitter na noite de quarta-feira para enviar um recado aos ministros da Suprema Corte. Insinuou que a mudança na norma que impulsionou o combate à corrupção pode levar o povo brasileiro a "cair outra vez no desalento e na eventual convulsão social".

O blog ouviu dois ministros do Supremo sobre a manifestação do general. Um considerou normal. "Ele já não comanda o Exército. Tem o direito de se manifestar como qualquer cidadão". Outro tachou de "absurdo" o tuíte do general. "É uma tentativa bisonha de interferir no resultado do julgamento. O pior é que se trata de uma reincidência. O general parece não ter aprendido nada com a admoestação do decano  Celso de Mello, o que é lamentável".

No ano passado, Villas Bôas também recorrera ao Twitter quando o Supremo estava prestes a julgar o pedido da defesa de Lula para que o ex-presidente não fosse preso. Em linguagem mais direta, o general escrevera na época que o Exército, avesso à impunidade, estava atento "às suas missões institucionais". Abespinhado, Celso de Mello desqualificou a manifestação antes de proferir o seu voto.

Villas Bôas é assessor do amigo e também general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Na abertura de sua nova manifestação, o ex-comandante do Exército evocou um personagem caro aos ministros do Supremo: Rui Barbosa. Tomou de empréstimo sua frase mais célebre: "De tanto ver triunfar a nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto".

O general encerrou o texto com uma espécie de exortação aos ministros do Supremo, seguida de previsão de mau agouro: "É preciso manter a energia que nos move em direção à paz social, sob pena de que o povo brasileiro venha a cair outra vez nodesalento e na eventual convulsão social". Antes da assinatura, Villas Bôas  escreveu: "Com todo o respeito." (leia abaixo a íntegra do post do general)

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.