Bolsonaro briga com a lógica e o povo argentino
Ao dizer que não parabenizará Alberto Fernández por ter prevalecido nas urnas, Jair Bolsonaro imaginou que estivesse apenas mantendo acesa sua briga com o adversário do seu preferido Mauricio Macri. Engano. O presidente brasileiro se desentende com a lógica e ofende o eleitorado da Argentina. Diverge da lógica porque sua retórica é ruim para os negócios. Insulta o eleitor argentino porque desrespeita a própria democracia do vizinho.
Bolsonaro alega que o presidente eleito da Argentina afrontou o Brasil e seu sistema judiciário ao aderir ao "Lula Livre". Tem toda razão. Lula está preso porque é um corrupto de terceira instância. Condenado em duas jurisdições, teve a sentença confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça, que inclusive reduziu a sua pena. Mas Bolsonaro poderia ter apontado a insensatez alheia sem engrossar o desatino.
Assim como Fernández não foi eleito para cuidar do sistema prisional brasileiro, Bolsonaro não foi enviado ao Planalto para se meter nos assuntos internos da Argentina, subvertendo um dos princípios mais elementares da política externa. Tendo cometido o erro de apoiar Mauricio Macri, o capitão precisa agora retirar a raiva do pudim. A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, principal destino de manufaturados brasileiros.
Dias atrás, Bolsonaro ameaçou retirar o Brasil do Mercosul. Depois, cogitou juntar-se ao Paraguai e Uruguai, para expurgar a Argentina. Sabe que não fará nem uma coisa nem outra. Às voltas com a consolidação do acordo celebrado com a União Europeia, o Mercosul precisa ser fortalecido, não torpedeado por seus líderes.
Cedo ou tarde, o personalismo dará lugar ao pragmatismo na diplomacia brasileira. A ficha demora a cair porque falta um chanceler ao Brasil. No momento, o pior tipo de solidão para Bolsonaro é a companhia de Ernesto Araújo, o antidiplomata que o polemista Olavo de Carvalho colocou na poltrona de ministro das Relações Exteriores.
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