Cultura do desmatamento é ignorância do capitão
Jair Bolsonaro disse que o desmatamento e as queimadas não vão acabar porque são fenômenos culturais. A cultura de um povo também serve para dimensionar a ignorância dos seus dirigentes. E a ignorância de Bolsonaro parece possuir dimensões amazônicas.
É evidente que desmatamentos e queimadas não começaram em 1º de janeiro de 2019, quando Bolsonaro tomou posse. Mas o presidente, com suas palavras e seus gestos, estimulou os dois fenômenos. Isso deixou de ser uma suposição depois da divulgação dos dados consolidados do Inpe, que revelaram a derrubada de quase 10 mil km² de mata, num crescimento de quase 30% em relação aos 12 meses anteriores.
A coisa degringolou porque o presidente e o seu anti-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles deram de ombros para os alertas científicos do Inpe e desmontaram o aparato fiscalizatório do Ibama e do ICM-Bio. Bolsonaro chegou a se autodefinir como "capitão motosserra". Deu no que está dando. Os criminosos se assanharam. Mas o presidente se recusa a extrair ensinamento dos seus próprios erros.
Grande admirador dos Estados Unidos, Bolsonaro deveria inspirar-se no ex-presidente Roosevelt. Ele dizia que a Presidência da República oferece àquele que a ocupa uma tribuna vitaminada. Chamava essa tribuna de bully pulpit —púlpito formidável, numa tradução livre. De um bom presidente, ensinou Roosevelt, espera-se que aproveite o palanque privilegiado para irradiar confiança e bons exemplos. De Bolsonaro não se espera tanto. Mas uma dose de recato já pareceria um extraordinário avanço institucional.
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