Faltou líder que dissesse: ‘Gente, pode pegar mal!’
O Congresso fez uma opção preferencial pela autodesmoralização. É como se os parlamentares estivessem empenhados em revogar o direito do brasileiro ao otimismo. Se ninguém fizer nada —e tudo indica que nada será feito— o Legislativo aprovará uma elevação do fundo de financiamento para os candidatos a prefeito e a vereador em 2020 de R$ 2 bilhões para R$ 3,8 bilhões.
Para chegar a esse valor, os congressistas passaram na lâmina fatias de orçamentos de vários ministérios. Coisa de R$ 1,7 bilhão. Uma parte foi retirada da Saúde (R$ 500 milhões). Outro naco foi subtraído de projetos de infraestrutura em áreas como habitação popular e saneamento básico (R$ 380 milhões). Suprimiu-se dinheiro até da educação (R$ 280 milhões).
Repetindo: retirou-se verba de áreas como saúde, habitação, saneamento e educação para engordar o bolo de dinheiro público a ser torrado na campanha municipal do ano que vem. Experimente colocar essa transferência de verba social para a caixa eleitoral nas suas circunstâncias. Pense na reunião em que os líderes partidários optaram pelo escárnio. Não ocorreu a ninguém dizer 'quem sabe na educação e na saúde a gente não mexe!'. Nenhuma voz se levantou para ponderar: 'Gente, cortar no saneamento pode pegar mal."
Treze partidos avalizaram a elevação da tunga. Anote aí: PP, MDB, PTB, PT, PSL, PL, PSD, PSB, Republicanos, PSDB, PDT, DEM e Solidariedade. Apenas quatro legendas se posicionaram contra: Podemos, Novo, Cidadania e PSOL. Se tudo correr como planejado, você paga a conta mais salgada e eles decidem que candidatos receberão a verba. Eles quem? Ora, os de sempre: Lulas e Valdemares, Jerffersons e outros azares.
Celebrava-se no início do ano, a posse do Congresso mais renovado das últimas três décadas. Chega-se no final do ano à conclusão de que o Parlamento novo era pão dormido.
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