Futuro reeleitoral de Jair Bolsonaro está no bolso
Candidato declarado à reeleição, Jair Bolsonaro encontra na mais recente pesquisa do Datafolha uma fórmula para o sucesso. A coisa passa pelo bolso do brasileiro. Num instante em que a economia exala um leve aroma de crescimento, a popularidade do presidente parou de cair.
A taxa de aprovação de Bolsonaro deslizou de 29% para 30%. O índice de reprovação, que saltara em agosto de 30% para 38%, escorregou para 36%. As variações estão dentro da margem de erro da pesquisa. Sua conversão em tendência depende de dois movimentos.
Num movimento, Bolsonaro precisa trazer a língua na coleira. Noutro, tem de abandonar a condição de estorvo de sua equipe econômica. Entre todos os setores do governo, o econômico é o mais popular. Em três meses, cresceu cinco pontos percentuais o índice dos que aprovam a atuação do governo nessa área.
Em trajetória inversamente proporcional, caiu a taxa de aprovação do modo como o governo lida com a corrupção. Quer dizer: embora considere que a gestão de Bolsonaro tornou-se mais complacente com os maus costumes, um pedaço da plateia emite sinais de que pode fechar os olhos se a economia der um salto.
Mal comparando, Bolsonaro vive situação análoga à de Michel Temer antes do grampo do Jaburu. Temer dispunha de uma equipe econômica com boa reputação. Alguns foram aproveitados na equipe de Paulo Guedes. O resultado não tardou a aparecer no painel de indicadores.
Quando Temer assumiu, nas pegadas do impeachment de Dilma Rousseff, o PIB estava numa lona histórica. No segundo trimestre de 2016, a recessão ardia a pino: em quatro trimestres, acumulou-se uma contração de notáveis 4,8%. A inflação bateu em 9,5%.
Com método e paciência, a equipe de Temer retirou o país da recessão, iniciando uma trajetória de taxas mixurucas de crescimento. A inflação foi contida, os juros começaram a cair.
A coisa não deslanchou basicamente por duas razões: Temer fez concessões à irresponsabilidade fiscal. Concedeu reajustes a servidores. Fez favores a ruralistas. De resto, foi pilhado na conversa vadia com Joesley Batista.
Sob Bolsonaro, aprovou-se a reforma da Previdência que Temer não conseguiu retirar do papel, reforçou-se o torniquete fiscal e reduziram-se ainda mais os juros. O resultado está longe de ser exuberante, mas ele existe.
O desemprego cai. Entretanto, o ritmo é lento, a remuneração é menor, a informalidade supera os 40% e o trabalho é mais precário. O consumo neste final de ano foi anabolizado pela liberação de parte do FGTS.
O brasileiro não ignora o tamanho do desafio. De acordo com o Datafolha, a maioria (55%) considera que a crise deve demorar para acabar, e o país não voltará a crescer vigorosamente a curto prazo.
Para complicar, a grossa maioria (80%) não confia no presidente. Uma parte (43%) desacredita de tudo que ouve de Bolsonaro. Outra parte (37%) confia no capitão apenas de vez em quando.
A despeito de tudo, os entrevistados resolveram estancar a sangria da popularidade de Bolsonaro. Se tivesse juízo. O presidente destituiria sua língua do posto de líder da oposição e tocaria as reformas pós-Previdência em vez de pisar no freio. Mas juízo é material escasso no Planalto.
De resto, convém não esquecer que há na praça um fio desencapado. Chama-se Fabrício Queiroz. Tem potencial para produzir um curto-circuito tão desestabilizador quanto o grampo produzido na noite alta do Alvorada por Joesley Batista.
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