Capitão ressuscita pau de arara e tortura a lógica
De passagem pelo Estado de Tocantins, Jair Bolsonaro prometeu pendurar no pau de arara ministros pilhados em corrupção. Fez isso na véspera desta sexta-feira, 13. Cultor da ditadura, o capitão sabe que não é um dia qualquer.
Há 51 anos, em 13 de dezembro de 1968, o general Costa e Silva baixou o AI-5, Ato Institucional número cinco. Um golpe dentro do golpe. Vigorou por dez anos. Período sombrio, marcado por arbitrariedades hediondas.
Bolsonaro discursou como se não enxergasse corrupção ao redor. "Se aparecer, boto no pau de arara o ministro", declarou. "Se ele tiver responsabilidade, obviamente. Porque, às vezes, lá na ponta da linha, está um assessor fazendo besteira sem a gente saber. Não é isso? É obrigação nossa, é dever".
Algo como 160 milhões dos 210 milhões de brasileiros não sabe do que Bolsonaro está falando. É gente que não havia nascido na época em que escorria sangue nos porões.
Abre parênteses: no pau de arara, os pulsos do torturado são amarrados aos tornozelos. Antes do início da sessão de suplícios, a vítima é pendurada pelos joelhos, de ponta-cabeça, num pau roliço. Fica à mercê dos algozes. Fecha parênteses.
O capitão assegura que não há perversão no seu governo. Convém não discutir com um especialista, pois há na Esplanada meia dúzia de encrencados: três denunciados, dois investigados e até um condenado.
Esses ministros estão pendurados na folha de pagamento da União, não no pau de arara. Desfilam pelos gabinetes de Brasília como se nada tivesse sido descoberto sobre eles.
Ao discursar no Tocantins, Bolsonaro esqueceu de lembrar —ou lembrou de esquecer— até os casos mais rumorosos. Como o processo do ministro Marcelo Álvaro Antônio, mantido na pasta do Turismo mesmo depois de ser denunciado pelo Ministério Público por envolvimento no escândalo de candidaturas laranjas do PSL.
Ou o caso de Ricardo Salles, o antiministro do Meio Ambiente. Já condenado por improbidade administrativa, ele agora é investigado por enriquecimento ilícito.
De resto, pende da árvore genealógica de Bolsonaro o inquérito que envolve o primogênito Flávio, investigado por suspeita de peculato e lavagem de dinheiro. Coisa da época em que dava expediente como deputado estadual da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Nessa ocasião, o Zero Um confiava a administração da folha do seu gabinete ao policial militar Fabrício Queiroz, um amigo de três décadas do seu pai.
Bolsonaro levou o pau de arara aos lábios em pleno aniversário do AI-5 para movimentar as arquibancadas de sua bolha nas redes sociais.
Quem não frequenta esse ambiente fica com a impressão de que o capitão deveria parar de torturar a lógica. Sob pena de acabar pendurando a si mesmo no pau de arara.
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