Reforma ministerial ganha enredo de chantagem
Josias de Souza
14/01/2012 04h13
O caso tem origem em São Paulo. Numa ponta, o PR. Noutra, o PT. No centro, a candidatura petista de Fernando Haddad à prefeitura da capital paulista. Como pano de fundo, a reforma ministerial.
O PR negocia seu apoio. Leva ao balcão o tempo de TV. Quase três minutos. Coisa valiosa. Sobretudo para um candidato como Haddad, que depende da propaganda eletrônica para fazer-se conhecido.
Súbito, o PR condicionou seu ingresso na coligação de Haddad a uma decisão de Dilma Rousseff. A legenda quer Marta Suplicy (PT-SP) fora do Senado. Deseja vê-la num ministério. Qualquer ministério.
Chama-se Antonio Carlos Rodrigues o primeiro suplente de Marta. Carlinhos, como é conhecido, é vereador pelo PR. Ocupa uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo.
Como tudo que envolve o PR, a jogada vem acompanhada de uma ameaça. Se Dilma não guindar Marta à Esplanada, o partido pode coligar-se à chapa de Gabriel Chalita, o candidato do PMDB.
Para demonstrar que fala sério, a direção do PR-SP mantém diálogo simultâneo com Chalita, nome empinado pelo vice-presidente Michel Temer. A contragosto de Lula, que queria o PMDB com Haddad.
Diferentemente de Haddad, Chalita não é um debutante em urnas. Elegeu-se vereador em 2008 (mais de 100 mil votos). Deputado em 2010 (quase 600 mil). Mas também precisa de tempo de TV.
PT e PMDB tricotam com outras legendas. Dependendo do desfecho das negociações, quem arrematar o PR pode comparecer à disputa com uma vitrine televisiva maior que a do antagonista.
Ficara subentendido que a senadora poderia –talvez, eventualmente, quem sabe…— compor a equipe de Dilma. A presidente absteve-se, porém, de assumir compromissos.
Informada sobre a exigência do PR e sobre as conveniências do PT-SP, Dilma manteve o ar de descompromisso. Por ora, não disse sim. Tampouco disse não.
Os operadores chamam o lance de articulação política. Um eufemismo para chantagem. Tomada pela biografia, Marta pode ocupar vários ministérios. Nomeada sob tais circunstâncias, entraria pelos fundos.
Dilma encontraria no histórico de Marta justificativas variadas para uma eventual nomeação. Com o PR a espreitar-lhe a caneta, deixaria no ar a impressão de que cedeu a uma extorsão política.
Nunca é demasiado recordar: em São Paulo, quem dá as cartas no PR é o deputado Valdemar Costa Neto. Figura conhecida. Réu no processo do mensalão.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.