PSD avaliza 'pas de deux' de Kassab com o PT
Josias de Souza
31/01/2012 03h10
Dependendo do cenário, Kassab ajusta a pose. Sua melhor comédia é o monólogo. Com uma prefeitura em ruínas ao fundo, ele diz que sua prioridade é fazer de Guilherme Afif Domingos, do PSD, seu sucessor. Nem precisa exagerar na mímica. A piada é autorealizável.
O cenário em que contracena com o PSDB fascina pelo simplismo dos subterfúgios e primarismo da esperteza. Aproveitando-se da ausência de José Serra, o sujeito oculto da peça, Kassab convida Geraldo Alckmin a escalar um tucano para ser coadjuvante de Afif.
No palco que inclui o PT, Kassab se supera. Achegando-se a Lula, o sujeito composto do enredo, o prefeito tirou Fernando Haddad para dançar. Nada de Afif. Nessa versão, oferece apoio. Em troca, pede a vice e uma biografia nova expedida pelo petismo, o crítico mais ácido de sua administração.
Kassab dança no ritmo do neoparceiro. No final de semana, Haddad disse que o PSD ainda não havia procurado formalmente o PT. Lépido, Kassab reuniu sua tropa. Obteve da Executiva municipal e dos subcaciques que o seguem aval para iniciar o balé de elefantes.
À saída do encontro, Kassab executou, numa entrevista, os primeiros passos do pas de deux: "O diálogo com o PT é visto com naturalidade." Hã?!? "O presidente nacional do partido, Rui Falcão, foi muito respeitoso conosco durante o processo de criação do PSD." Heimm?!?
Falcão "compareceu à convenção nacional [do PSD], em Brasília, para nos desejar boa sorte. E não há porque não ter uma boa relação com o PT, a exemplo do que já acontece em outras cidades e Estados."
Ao esfregar na cara do PT a tese segundo a qual a ideia do antagonismo insolúvel não combina com a política, Kassab desafia o potencial parceiro de dança a olhar-se no espelho e perguntar-se a si mesmo: quem percorre o pântano sulfuroso de Brasília de mãos dadas com monstros sem alma pode fazer cara de nojo em São Paulo? Divertido. Muito divertido. Divertidíssimo.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.