PSDB nacional buscará agora unidade pró Aécio
Josias de Souza
26/02/2012 02h25
A cúpula do PSDB federal enxerga na decisão de José Serra de disputar a prefeitura de São Paulo a perspectiva de obter algo que o partido persegue há anos sem sucesso: a unidade em torno de um projeto nacional.
Planeja-se agora apressar a consolidação da candidatura presidencial de Aécio Neves. Na expressão de um dirigente tucano, deseja-se converter Aécio de opção "óbvia" –como o definiu FHC— em "fato consumado".
Sob críticas, Aécio já vinha sendo instado a assumir-se como candidato a 2014. As cobranças para que ele se apresente mais claramente como contraponto ao governo petista serão intensificadas.
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Os tucanos que operam as engrenagens do PSDB nacional receberam o último movimento de Serra com alívio. Receava-se que ele continuasse a fazer ouvidos moucos para os recados enviados pelo partido.
Traduzindo um sentimento que alega ser generalizado na legenda, a direção do PSDB sinalizava para Serra que seu projeto presidencial esgotara-se. Assumida a contragosto, a opção municipal foi entendida como uma "caída em si" de Serra.
Para viabilizar-se em São Paulo, Serra terá de se esforçar para convencer o eleitor paulistano de que, eleito, não arredará o pé da prefeitura até 2016. Um discurso que o aliado Gilberto Kassab já começou a esgrimir neste sábado (26).
Assim, Aécio fica como que liberado para mover-se como única alternativa presidencial já neste ano eleitoral de 2012. O partido quer que ele desfile seus pendores de candidato nos principais palanques municipais de oposição.
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Unificando-se, o PSDB obterá algo jamais alcançado desde que Fernando Henrique Cardoso concluiu seu segundo mandato na Presidência, em 2002. O partido converteu-se numa espécie de agremiação de amigos 100% feita de inimigos.
O tucanato compareceu a todas as sucessões presidenciais trincado. Em 2002, Serra tornou-se candidato do PSDB após travar renhida disputa com Tasso Jereissati. Prevaleceu no partido. E perdeu para Lula.
Em 2006, Serra mediu forças com Geraldo Alckmin. Na última hora, recuou. Convertido em candidato num conciliábulo de cúpula, Alckmin foi derrotado, em segundo turno, por Lula.
Em 2010, Serra disputou a vaga de candidato com Aécio Neves. Depois de passar meses exigindo a realização de prévias, Aécio se deu por vencido. E Serra foi à sorte dos votos pela segunda vez. Perdeu para Dilma Rousseff, o poste de Lula.
Assim, mantido o cenário idílico projetado pelo PSDB federal, será a primeira vez desde a saída de FHC do poder que o partido construirá uma candidatura ao Planalto sem ter José Serra num dos cantos do ringue.
É grande no tucanato a torcida para que Serra obtenha as condições políticas para pavimentar internamente sua candidatura a prefeito. É maior ainda a torcida para que ele consiga se eleger.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
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