Por Serra, o ilustre anônimo, PSDB adia prévias
Josias de Souza
29/02/2012 02h38
Para pavimentar o caminho que leva José Serra à candidatura, o PSDB dispensou-lhe tratamento contraditório. Depois de celebrado como postulante ilustre, Serra como que encareceu para que o vissem como um filiado desconhecido. Foi atendido.
O prazo para a inscrição nas prévias partidárias havia expirado em 14 de fevereiro. Serra foi inscrito fora do script sob argumentação óbvia: considerando-se sua biografia notável, seria um despautério exclui-lo da disputa.
As prévias estavam marcadas para 4 de março. Na noite desta segunda (28), por conveniência de Serra, foi adiada para 25 de março. Alegou-se que o candidato precisa de tempo para apresentar-se aos filiados.
Quer dizer: para homologar a pré-candidatura de Serra, invocou-se a fama do personagem. Para protelar a disputa por três semanas, dispensou-se a Serra um tratamento de anônimo, como se os militantes tucanos não soubessem quem ele é.
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Sob protestos de José Aníbal e Ricardo Tripoli, os tucanos que rivalizam com Serra, o adiamento foi aprovado numa reunião da Executiva municipal do PSDB paulistano. O encontro foi tenso. Durou mais de três horas.
Rendidos à vontade de Serrra e do governador Geraldo Alckmin, os membros da Executiva toparam o adiamento. Dividiram-se, porém, quanto ao prazo. Chegou-se ao dia 25 por um placar magro: 10 a 8. A banda dos vencidos preferia 11 de março.
Vice-presidente do PSDB paulistano, João Câmara, esperneou em público. Partidário de José Anibal, ele vociferou: "É um racha. O Serra veio para rachar o partido." Antevê uma "batalha" interna.
Presidente do diretório tucano, Julio Semeghini lamentou: "Infelizmente, não foi possível construir o consenso." Secretário do governo Alckmin, Semeghini foi ao encontro com a missão de arrancar do colegiado o adiamento.
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Diferentemente de João Câmara, os partidários de Serra prevêem não uma "batalha", mas um massacre. Imaginam que, com o prazo de três semanas, Serra vai arrastar para o seu lado a quase totalidade da legenda.
Com isso, acreditam os operadores de neocandidato, Aníbal e Trípoli podem preferir retirar-se da disputa para evitar o constrangimento de uma votação miúda. Nessa versão, Serra não disputaria as prévias, seria ungido pela militância. Daí o empenho pelo adiamento.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
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