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Dilma fala de ‘tsunami’ com Merkel na Alemanha

Josias de Souza

04/03/2012 19h38

Dilma Rousseff desembarcou em Hannover neste domingo (4). Vai participar, a convite da chanceler alemã Angela Merkel, da abertura da maior feira tecnológica do mundo, a CeBit, que tem o Brasil como "parceiro" na edição deste ano.

Aberta a feira, Dilma será homenageada por Merkel com um jantar, nesta segunda (5). Depois, as duas terão uma conversa a sós. Nesse encontro, Dilma pretende tocar na encrenca que batizou na semana passada de "tsunami monetário."

Cunhou a metáfora sob o impacto da decisão do Banco Central Europeu de despejar € 530 bilhões em oito centenas de bancos do continente. Dinheiro cedido na forma de empréstimos, com prazo de três anos.

Convenvido de que parte desse dinheiro virá atrás dos juros convidativos pagos no Brasil, o Ministério da Fazenda elevou para 6% o Imposto Sobre Operações Financeiras para empréstimos externos com prazos de até três anos.

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Dilma dirá a Merkel o que declarou no discurso da semana passada. Para ela, a política monetária dos países ricos, encalacrados pela crise, é ruinosa para nações emergentes como o Brasil.

Em tese, Dilma cumpre o seu papel. Na prática, enquanto o Brasil não reduzir sua taxa de juros para patamares civilizados, o chororô terá efeitos nulos. Hoje, o investidor contrai empréstimos no estrangeiro a taxas de até 1,5% ao ano e aplica o dinheiro no mercado financeiro brasileiro com remuneração de 10,5% ao ano.

Quer dizer: ou o Brasil reduz sua taxa de juros em ritmo mais acelerado ou o dinheiro forasteiro continuará chegando na sua forma mais deletéria, a especulação. E o Real continuará sobrevalorizado. As queixas e lágrimas de Dilma não servirão senão para acionar ao 'tsunami' uma torrente de retórica.

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Nesta semana, haverá nova reunião do Copom, o comitê do Banco Central que define a taxa básica de juros da economia. O BC manuseia a tesoura desde agosto de 2011. A taxa caiu de 12,5% para os atuais 10,5%.

Dá-se de barato que haverá novo corte. Pelo menos meio ponto percentual. O que reduziria a taxa para 10%, potencializando a sensação de que o governo opera para trazer os juros para algum patamar na casa de um dígito.

A questão agora é de ritmo. Guido Mantega avisa que o governo brasileiro mantém o paiol aberto. Sinaliza a intenção de adotar novas providências para erguer diques contra o 'tsunami'. Beleza. É do jogo. Mas, enquanto os juros forem um convite à especulação, o capital cuidará de encontrar maneiras de atravessar as barreiras.

Afora a questão monetária, Dilma deve conversar com Angela Merkel sobre a participação de universidades alemãs no programa brasileiro Ciência Sem Fronteiras. Deseja trocar idéias também sobre a conferência ambiental Rio+20.

Na manhã de terça (6), Dilma visita stands brasileiros na feira de Hannover. Depois, retorna ao Brasil. Engrossam a comitiva da presidente dois governadores petistas: Tarso Genro, do Rio Grande do Sul; e Jaques Wagner, da Bahia.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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