Conheça as 10 principais razões que levaram ao manifesto que o PMDB deve divulgar nesta terça
Josias de Souza
06/03/2012 04h38
A banda sublevada do PMDB promete para esta terça-feira (6) a divulgação do seu "manifesto" inaugural. Informa-se que a peça carrega as assinaturas de 45 dos 76 deputados do partido. A intenção dos idealizadores é a de converter a revolta num movimento de autoafirmação.
O blog conversou com um dos políticos que ajudou a riscar o fósforo que acendeu o pavio da sublevação. Sob a condição de que seu nome fosse preservado, falou com franqueza sobre as razões do motim. Vão abaixo, entre aspas, as explicações:
1. A coalizão: "Percebemos que, no governo Dilma, a coalizão ficou vesga. Antigamente, o PMDB era chamado por vocês da imprensa de fisiológico. Mas tinha os cargos. Hoje, continuam chamando o partido de fisiológico e quem tem os cargos é o PT. Queremos inverter esse jogo. Vai ficar claro que nosso movimento não é por ministérios. Pedimos respeito, não cargos".
2. A crise geracional: "Nosso manifesto é um primeiro grito de alerta. O PMDB perdeu, faz tempo, aquela aura de resistência contra a ditadura. A nova geração percebe que as lideranças que tinham prestígio para impulsionar as eleições em seus Estados envelheceram."
"Vem agora a disputa pelas prefeituras. O PT construiu um projeto hegemônico. E fica o PMDB tendo de arranjar recursos para cooptar uns partidecos em troca de 30 ou 40 segundos de tevê. Nosso pessoal começa a perceber que o futuro se estreitou. E todo mundo fica angustiado."
3. A ausência de projeto: "Essa nova geração do PMDB percebe que precisa de um projeto nacional para se viabilizar. Se, hoje, o PMDB tivesse um grande nome para encarar uma eleição presidencial essa merda explodiria. Todo mundo percebe o que está acontecendo. É tudo muito claro."
"O PT, para o mal ou para o bem, tem na reeleição de Dilma o seu projeto. O PSDB, frágil ou não, tem em Aécio Neves sua alternativa. E ficam os demais partidos girando na órbita desses dois astros. Sobrarão para o PMDB, outrotra grande partido, as migalhas do processo. Com o tempo, vamos acabar virando o DEM do PT."
4. O efeito São Paulo: "O Michel [Temer] lançou o [Gabriel] Chalita. A gente vê Lula sair da sua doença e vir ao Planalto exclusivamente para lançar o Fernando Haddad à prefeitura de Sao Paulo, com o Michel do lado dele. Vemos a Dilma dar o Ministério da Pesca para o partido do senhor [Marcelo] Crivella apenas para ajeitar as coisas para o Haddad."
"De repente, o [José] Serra entra na briga. E fica o Lula a dizer que, se o PMDB não apoiar o Haddad, o Michel pode não ser o vice em 2014. Ora, por que o Lula tem o direito de inventar um cara com 3% e nós não podemos manter o nosso, que tem 7%?"
"Cito São Paulo porque é o caso mais emblemático. Isso se repete país afora. O PT não abre mão de nada. Onde eles podem, nas cidades maiores, passam o trator. O Michel soube da nomeação do Crivella pelo Google. Um assessor viu na internet e avisou. Por que deveríamos apoiar a nomeação de um ministro que não sabe o que é minhoca e anzol? Para enfiarem a minhoca na gente? Isso já cansou."
5. O meio e o fim: "Nosso manifesto não é voltado apenas para o governo. O objetivo central é sacudir a direção do PMDB. O governo faz o que acha que deve fazer. Nós precisamos dizer: não pensem que vamos levar essa situação, do jeito que está, até 2014".
"Esse jogo é conhecido. Numa eleição meio, como a de 2012, o PT engole todo mundo e a Dilma diz que não vai aos palanques para evitar o confronto. Quando chegar 2014, a eleição fim, eles atropelam sem cerimônia. E o PMDB, saindo menor de 2012, chegará a 2014 de joelhos. É contra isso que nos debatemos."
6. A perda de importância: "Um partido que tem como projeto de poder eleger o Henrique [Eduardo Alves] para a presidência da Câmara não pode ser chamado de partido. Fizemos o vice-presidente da República imaginando que o PMDB teria um upgrade. No fim das contas, perdemos importância."
"A Dilma sonega ao Michel até a cortesia de um aviso sobre a nomeação de um ministro. O papel do nosso vice ficou reduzido a participar de eventos oficiais. Outro dia, foi segurar o caixão das vítimas do incêndio na Base da Antártida. É pra isso que servimos?"
7. O estilo Temer: "Para se fazer respeitar, o Michel teria de se afirmar. Do jeito que as coisas vão, é preciso mandar um recado: olha, Dona Dilma, ou a situação toma outro rumo ou a senhora não vai poder viajar nem pra Bolívia. Algo que o Michel, pelo estilo dele, jamais vai fazer."
8. Cúpula por fora: "A gente lê nos jornais que o Henrique e o Michel, informados sobre a existência do manifesto, resolveram transformar o documento em iniciativa de toda a bancada da Câmara. Conversa fiada. Eles não sabiam do manifesto. Não receberam cópia. Essa conversa toda é como a história do malandro que sabe que vai cair e deita."
"Não se trata de um movimento contra o Michel. Ao contrário. Ele é tratado no manifesto como nosso vice. Não informamos porque sabíamos que ele, com o jeitinho dele, queimaria o apreço que todos lhe devotam para tentar abortar a iniciativa. Se não atendêssemos aos apelos dele, pareceria um desafio à sua liderança. Até para preservá-lo, preferiu-se não informar."
9. O sacolejo: "Num primeiro momento, o manifesto vai provocar uma discussão interna, vai sacolejar o partido. Serão fortalecidos os grupos que estavam descontentes e evitavam manifestar a insatisfação. Estamos pedindo um encontro partidário para abril. Até lá, surgirão muitos fatos. Senadores que participaram da discussão vão aderir."
"Num segundo momento, o debate terá reflexos na disputa pela presidência do PMDB, que ocorrerá no início de 2013. Aquela propalada unidade que conduziu Michel Temer à vice-presidencia da República está deixando existir. Agora, fala mais alto a sobrevivência política de cada um."
"Estamos informando ao governo e ao PT que não aceitaremos mais ser tratados como aliados de segunda classe. Não será em nome da candidatura do Henrique à presidência da Câmara que vamos nos lascar. Ah, o Michel é o vice! E daí? Por isso temos que engolir tudo calados? Não dá mais."
"A rigor, o recado serve também para os nossos. Liderança de bancada é função de confiança. Os deputados estão dizendo ao líder que não aceitam ser tocados como gado. Um documento com 45 assinaturas é sinal de que, havendo interesse, o líder pode ser trocado a qualquer momento."
10. Os reflexos no plenário: "Pode ser que ninguém explicite agora, mas esse movimento vai afetar, ali na frente, os interesses do governo no plenário da Câmara. Vem aí o Código Florestal, uma votação complicada. Virão outras. Todo movimento tem o seu timing."
"Não adianta fazer agora um manifesto de rompimento com o governo. Muitos até desejariam. Mas, no momento, o importante é sinalizar a preocupação do partido com um projeto nacional. Se isso não der certo, cada um vai buscar o seu rumo quando os calos apertarem em 2014. Não dá para subir ao cadafalso entoando a Marselhesa."
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.