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Senado rejeita o indicado por Dilma para ANTT

Josias de Souza

07/03/2012 20h12

Em decisão inusual, o plenário do Senado rejeitou a recondução de Bernardo Figueiredo para a presidência da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Indicação pessoal de Dilma Rousseff, o nome caiu por maioria de votos. Votação apertada: 36 contra, 31 a favor, uma abstenção.

Conforme prevê o regimento, a votação foi secreta. A despeito do sigilo, vários senadores fizeram questão de escalar a tribuna para expor suas restrições a Bernardo Figueiredo. Um nome que vinha sendo combatido há semanas pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR).

Requião reiterou na sessão desta quarta seu ponto de vista. Disse que a gestão de Bernardo na ANTT, tisnada pela nódoa da suspeição, o descredencia para o exercício do cargo. Leu da tribuna relatório em que o TCU aponta indícios de irregularidades na agência.

Relator da mensagem de Dilma, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) trocou farpas com Requião. Declarou que o documento lido pelo colega era de 2007. Relataria fatos anteriores à chegada de Bernardo na ANTT.

Requião manteve o verbo em riste. Acusou Lindbergh de "faltar com a verdade". O senador pemedebê foi ecoado por representantes da oposição. Ficou claro que PSDB, DEM e PSOL votariam contra o nome sugerido por Dilma.

O bloco oposicionista, por minoritário, não teria como impor a derrota ao governo. Deve-se o infortúnio a um misto de desmobilização e descontentamento da tropa do Planalto. Num colegiado de 81 senadores, foram ao placar eletrônico do Senado apenas 68 votos.

Requião não foi o único senador de legenda governista a votar contra Bernardo por convicção. Pedro Taques (PDT-MT) fez questão de abrir o voto. Recordou em discurso que a agência reguladora do setor de transportes é alvo de investigação do Ministério Público. Disse que Bernardo é "inconpetente e não tem idoneidade para exercer o cargo".

Líder de Dilma no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) viu-se compelido a reconhecer que algo de anormal se passa no consórcio governista: "Foi um posicionamento político de pessoas que estão insatisfeitas. O governo vai avaliar o que fazer. Existem insatisfações em vários partidos que foram manifestadas no voto secreto. A gente tem que entender o recado, aprofundar as relações políticas e acabar com as defecções."

As circunstâncias potencializam a derrota. Bernardo Figueiredo é personagem de confiança de Dilma. Foi assessor dela na época em que ocupava a chefia do Gabinete Civil de Lula. Na ANTT, Bernardo tinha como missão viabilizar um projeto que a presidente considera prioritário: o trem-bala Campinas-São Paulo-Rio.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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