Governo demite indicado do PMDB para a chefia do Ibama no Piauí sem avisar cúpula da legenda
Josias de Souza
09/03/2012 06h38
Assinada há dois dias pela ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente), a portaria acima foi publicada na edição desta quinta-feira (8) do Diário Oficial da União. O texto mandou ao olho da rua o superintendente do Ibama no Piauí.
Chama-se Carlos Máximo. Ocupava o cargo havia escassos cinco meses. Indicou-o o deputado federal Marllos Sampaio (PMDB-PI). A demissão pegou afilhado e padrinho de surpresa.
Marllos apressou-se em veicular em sua página na web nota reveladora do seu "prestígio". Além de aceitar o convite, a estrela máxima do PMDB declarara-se favorável à construção de rodovia ansiada pelos piauienses: a BR 222.
Menos de 24 horas depois, a influência política de Marllos foi abalroada pela portaria que expurgou seu protegido do comando estadual do Ibama. Atônito, o deputado pendurou-se ao telefone.
Em contato com dirigentes do PMDB, Marllos constatou que não era o único desinformado. Nenhum integrante da cúpula da legenda merecera a delicadeza de um aviso prévio.
Tudo isso num instante em que o partido de Temer acaba de divulgar um manifesto em que 53 dos seus 76 deputados reclamam do tratamento de segunda classe que recebem do governo.
Pouco depois de assumir o Ibama piauiense, o agora demitido Carlos Máximo dissera, em entrevista, ter recebido ameaças de morte e ofertas de propina para reduzir multas ambientais.
As declarações puseram em movimento as engrenagens do Ministério Público. Na noite passada, o padrinho Marllos pendurou na internet outra nota. "Afirmo aqui que tenho total confiança na honradez de Carlos Máximo", diz o deputado no texto.
O Ibama fora ofertado ao PMDB num rateio suprapartidário de cargos federais localizados no Piauí. Participaram do 'racha' outras legendas governistas. Coordenou a divisão o senador João Vicente Claudino (PTB).
"Já comuniquei ao líder da bancada, o senador João Vicente Claudino, e vamos querer saber o motivo da exoneração", diz no seu site o deputado Marllos, agora menos prestigiado do que há dois dias.
O caso do piauiense é citado por integrantes da tribo dos pemedebê como mais uma evidência da falta de jeito do governo da morubixaba Dilma. Um dos descontentes diz: "Se o Ibama do Piauí fosse chefiado por alguém do PT, duvido que o demitiriam assim, sem a deferência de uma explicação."
É desse tipo de matéria prima que são feitas as crises brasilienses. Começam pequenininhas, em poltronas de terceiro escalão nos Estados. E desaguam em manifestos federais e rebeliões congressuais. É o preço que se paga por uma coligação alicerçada na cooptação.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.