Em privado, Sarney faz restrições à aliada Dilma
Josias de Souza
13/03/2012 03h09
Num intervalo de menos de 15 dias, José Sarney pronunciou comentários radioativos sobre Dilma Rousseff em pelo menos duas conversas. Quem o ouviu ficou com a impressão de que o morubixaba do PMDB passou a enxergar 2014 como uma porta giratória sem porteiro.
Um dos interlocutores depreendeu que o presidente do Senado ligou os seus radares. O equipamento havia sido acionado pela última vez em 2002. Nesse ano, Sarney desembarcou do apoio formal dado pelo PMDB à candidatura tucana de José Serra e inaugurou uma vitoriosa e rentável dissidência pró-Lula.
O segundo interlocutor traduziu o diálogo que manteve com Sarney assim: "Antes, o apoio dele a Dilma era incondicional. Incluía o morango e o chantilly. O creme já desapareceu. E a fruta começa a ficar passada."
Sob Dilma, Sarney mantém o controle do estratégico setor elétrico, obtido sob Lula. Considerando-se que Edison Lobão não virou ex-ministro, ainda que os radares de Sarney captem vibrações alternativas, o eventual desembarque há de ser lento. Mas a hipótese de turbulência passou a compor o cenário.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.