Haddad: ‘Vamos trazer o governo Lula para SP’
Josias de Souza
12/04/2012 19h16
Haddad falou por quase vinte minutos à 'Revista Linha Direta', veículo de comunicação do PT paulista. Foi uma entrevista companheira, sem apertos. Mas serviu para revelar nacos do pensamento do candidato. Aqui, há um vídeo com a íntegra.
Para Haddad, deve-se injetar "governo Lula" em São Paulo porque "o Brasil está vivendo um momento de prosperidade". Nas suas palavras, o país tornou-se um "exemplo" mundial de "boas práticas".
"O Brasil é citado em relatórios internacionais, em livros sobre desenvolvimento nacional. Mas a nossa cidade de São Paulo deixou de ser citada. Hoje, nós somos só conhecidos pelos nossos problemas."
"Hoje, não figuramos mais na vitrine das regiões metropolitanas que têm o que mostrar", prosseguiu Haddad. "São Paulo deixou de ter o que mostrar." Sem mencionar os nomes do antagonista José Serra (PSDB) e do apoiador Gilberto Kassab (PSD), Haddad comparou-os a Marta Suplicy (PT).
"Com um terço do orçamento atual e um mandato menor, o PT entregou [sob Marta] mais para a cidade do que nos últimos oito anos [de Serra e Kassab]. Com orçamento muito menor e num período mais curto, metade do tempo da atual administração, nós entregamos muito mais benefícios para a cidade."
Haddad afaga Marta num instante em que a ex-prefeita, hoje senadora, hesita em mergulhar na campanha dele depois de ter sido excluída do tabuleiro eleitoral por Lula. Como que interessado em arrancar da companheira preterida um apelido que causa a ela enorme incômodo –'Martaxa'—, Haddad levou as comparações para o campo tributário.
"O contribuinte paulistano está pagando mais impostos –ISS, IPTU, taxas— e não está vendo o retorno disso em investimento. A cidade está parando, o trânsito está caótico, as pessoas não têm acesso a educação e saúde de qualidade…"
Levou as analogias também para fora do país: "Hoje, o mundo olha para Bogotá, Cidade do México, Santiago, Xangai… Mas não olha para São Paulo. A cidade, do ponto de vista da inovação em termos de políticas públicas, estagnou."
Daí, segundo ele, a necessidade de "sintonizar São Paulo com o que está acontecendo no Brasil" inaugurado por Lula em 2003. Ajudado pelas perguntas amigáveis, Haddad usou generosos trechos da entrevista para grudar-se à imagem do seu padrinho político.
Ciente de sua 'lulodependência', potencializada pela lanterna nas pesquisas, Haddad realçou sua passagem pela pasta da Educação. "Por seis anos e meio eu servi ao governo Lula e no primeiro ano do governo Dilma."
Fez soar o bumbo: "Felizmente, esse operário que chegou à Presidência bateu muitos recordes. Foi o que mais investiu em educação básica, profissional e superior, o que mais inagurou campus universitário e escola técnica, o que mais distribuiu bolsas de estudo…" etc, etc e tal.
"E eu fui o companheiro dele na área da Educação. Eu fui o escolhido para levar esse projeto à frente. Então, para mim, é um duplo orgulho: ter podido fazer o que eu fiz e ter servido ao governo de um operário que casou com a educação."
Perguntou-se a Haddad o que achou da entrada de Serra na disputa. E ele, em timbre irônico: "Essa é a sexta eleição do século 21, a quinta que o Serra participa. Eu tive fazendo uma conta: o Serra participa de uma eleição a cada dois anos e dez meses." Por isso, disse que não se surpreendeu com a subida do tucano no ringue.
Chamou o rival de "adversário de peso." Curiosamente, na mesma entrevista em que revelou o desejo de "trazer todo o governo Lula para a cidade", Haddad repisou a tese segundo a qual Serra interessa-se mais pela cena nacional do que pelo município.
Afirmou que Serra "foi destacado pelo seu partido para se contrapor ao nosso projeto nacional. Ele disse isso, que está menos preocupado com a cidade e mais em fazer oposição à presidenta Dilma usando São Paulo para isso."
Acrescentou: "Nosso objetivo é contrário ao dele, é trazer os benefícios da prosperidade que o país vive, num pacto federativo, para a cidade." Acha que o paulistano precisa conhecer melhor as iniciativas federais.
Citou o Minha Casa, Minha Vida, o PAC da mobilidade urbana, o plano de desenvolvimento da educação. Acredita que, bem informado, o eleitor perceberá que São Paulo "vai ganhar" com a vinculação da prefeitura à esfera federal.
Ganhará, segundo ele, "como muitas cidades brasileiras estão ganhando, sintonizando os seus programas locais com as grandes diretrizes nacionais de desenvolvimento sócio-econômico." Como se vê, Haddad parece mesmo decidido a fazer de Lula o principal adversário de Serra.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.