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Na CPI, Collor diz que combaterá ‘vileza política’

Josias de Souza

25/04/2012 17h14

Vinte anos depois de ter sido moído por uma CPI, Fernando Collor encontra-se agora do outro lado do balcão. Em 1992, seu governo era "réu" na CPI do Collorgate. Em 2012, na pele de senador, Collor é "juiz" na CPI do Cachoeira.

Nesta quarta (25), Collor subiu os degraus que levam à tribuna do Senado para explicar as razões que o inspiraram a tornar-se membro efetivo da CPI. Quer impedir "vazamentos" e assegurar o respeito aos direitos dos acusados.

"É preciso não deixar que o colegiado torne-se instância fadada a servir de mero palco para a vileza política e um campo fértil de desrespeito aos direitos constitucionais dos homens públicos e de qualquer cidadão brasileiro."

CPI não é "tribunal de exceção", disse. Montará vigilância contra vazamentos de dados sigilosos à imprensa e "todo tipo de manipulação a que recorrem os meios para instigar comportamentos, deformar opiniões e induzir resultados."

Afirmou que não vai aceitar certas práticas dos meios de comunicação e de informantes que recorrem a "métodos rasteiros" como a difusão de informações sob a proteção do anonimato.

Collor gastará suas energias para impedir que a CPI seja "pautada pelos meios e seus rabiscadores". Uma gente que não visa senão "furos de reportagem e lucro". Ainda que ao preço da veiculação de "notícias falsas ou distorcidas."

A ira que Collor devota aos "rabiscadores" é compreensível. Foram eles que ajudaram a desmontar as "notícias falsas ou distorcidas" que o ex-caçador de marajás tentou vender quando seu governo revelou-se uma farsa.

A desmontagem das mentiras do esquema Collor deu trabalho. Eram lorotas intrincadas: dos cheques que chegavam à secretária particular Ana Aciolly ao Fiat Elba pago com verba suja coletada por PC Farias, passando pela rede de correntistas-fantasmas.

Exceto pela imagem fluvial das cascatas instaladas na Casa da Dinda, o caso Collor tem pouco a ver com o escândalo Cachoeira. Não se espera que a elucidação da corrupção atual produza efeitos tão impactantes como um impeachment.

Mas é desalentador perceber que o país aprendeu tão pouco com o descalabro de outrora. Estava entendido que a expulsão de um presidente indigno do cargo ensinaria algo aos corruptos, aos corruptores e até ao eleitor.

A reiteração das mazelas mostra que as lições perderam-se no tempo. A presença de Collor no Senado indica que tampouco o dono do voto se deu por achado. Seja como for, será divertido assistir ao desempenho do ex-presidente na CPI.

É pena que o mensalão tenha levado à cassação do mandato do companheiro José Dirceu. A diversão seria maior se Dirceu, hoje no mesmo campo governista em que se encontra o PTB de Collor, também estivesse na bancada da CPI.

Expoente do ex-PT, Dirceu foi, há duas décadas, um dos mais notórios algozes de Collor. Vazava dados à imprensa com gosto e método. Hoje, decerto auxiliaria 0 ex-alvo na tarefa de bedel da mprensa golpista.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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