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PT agora hesita em convocar Gurgel para a CPI

Josias de Souza

10/05/2012 06h44

O generalato do PT ensaia um recuo de sua infantaria na CPI do Cachoeira. Antes decidido a apoiar a convocação do produrador-geral da República Roberto Gurgel, o partido agora hesita. Não desistiu de converter Gurgel em alvo. Mas passou a considerar a hipótese de representar contra ele no Conselho Nacional do Ministério Público, longe da azáfama da CPI.

Deve-se o esboço de meia volta ao receio do PT de oferecer argumentos para que a oposição fabrique uma nova CPI do Fim do Mundo, como ocorreu em 2005 com a Comissão Parlamentar de Inquéritos dos Bingos. Inaugurada com um requerimento de Fernando Collor (PTB-AL), a fornalha em que o petismo tenta queimar Gurgel foi reaquecida com o depoimento do delegado Raul Alexandre Marques Souza.

Responsável pela Operação Vegas, o delegado da Polícia Federal contou na CPI que, enviada à Procuradoria-Geral da República em 15 de setembro de 2009, a investigação parou. Na noite da inquirição, o petismo parecia decidido a adotar em relação a Gurgel um discurso do tipo mata-e-esfola.

Nesta quarta (10), depois de uma consulta aos travesseiros, os comandantes da tropa anti-Gurgel já se reposicionavam no front. Em privado, os petistas passaram a alegar que, servindo-se do depoimento do delegado Raul para arrastar o procurador-geral até o banco da CPI, abririam um precedente que interessa à oposição.

Ficaria entendido que qualquer novidade mencionada em depoimentos serviria de pretexto para pleitear na CPI a abertura de novas frentes de investigação, desviando o foco de Carlinhos Cachoeira e de Demóstenes Torres. Daí para as obras do PAC, tocadas pela Delta Construções, seria um pulo.

É para evitar o risco da mimetização do Apocalipse de 2005 que o PT flerta com a ideia de afastar a batalha contra Gurgel da cena da CPI. Daí a intenção de buscar elementos que possam fundamentar uma representação junto ao Conselho Nacional do Ministério Público. Abespinhado, o procurador-geral cuidou de vacinar-se.

Ao sentir o cheiro de queimado à sua volta, Gurgel buscou imunização no mensalão. Em entrevista, disse: "Há uma tentativa de imobilizar o procurador-geral da República para que não possa atuar, seja no caso do senador Demóstenes, seja preparando-se para o processo do mensalão, caso que classifiquei como talvez o mais grave atentado à democracia brasileira."

Gurgel acrescentou: "É compreensível que pessoas ligadas a mensaleiros estejam interessados em acusações falsas para atacar o procurador-geral da República." Perguntou-se ao chefe do Ministério Público se enxerga as digitais de José Dirceu nas críticas. E ele: "Há, se não réus, protetores de réus interessados, pessoas com notórias ligações com os réus do mensalão."

Cândido Vaccarezza (PT-SP), um dos representantes da bancada do PT na CPI, recomendou "humildade" a Gurgel. "Não pega bem e mostra um certo desequilíbrio. Pegaria bem se ele explicasse. Se fosse um pouquinho mais humilde, menos arrogante e explicasse. Não são os membros do PT. São membros de todos os partidos que se manifestaram criticando o fato de o procurador não ter denunciado há três anos uma situação que ele tinha conhecimento pleno."

Para não dizerem que deixarão de falar em espinhos, os petistas cogitam substituir a convocação de Gurgel por um requerimento que leve à CPI a mulher dele, a subprocuradora-geral Cláudia Sampaio Marques. Foi ela, segundo o delegado Raul Souza, quem comunicou à PF que a Procuradoria não encontrara no inquérito da Operação Vegas indícios suficientes para denunciar ao STF os congressistas envolvidos com Cachoeira. Entre eles Demóstenes Torres.

Resta saber se o PT encontrará na CPI aliados em número suficiente para aprovar um eventual pedido de convocação da mulher de Gurgel. Um pedaço da banda governista e a maioria da ala oposicionista, à frente o PSDB, não exibem disposição para aderir à idéia.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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