Por Maluf, PT se indispõe com presidente da CPI
Josias de Souza
21/06/2012 05h51
Em troca da entrega do tempo de tevê do seu PP ao candidato petista Fernando Haddad, Maluf obteve um guichê no Ministério das Cidades. Acomodou na poltrona de secretário Nacional de Saneamento Ambiental o engenheiro Osvaldo Garcia.
Submetido às conveniências do PT paulistano, o ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades), também filiado ao PP, não tergiversou. Sem delongas, levou ao Diário Oficial a nomeação do indicado de Maluf.
A presteza rendeu a Aguinaldo uma compensação. O PT também cuidou de agilizar o apoio do seu diretório de Campina Grande à irmã do ministro, a deputada estadual Daniela Ribeiro, candidata a prefeita da cidade paraibana.
Por mal dos pecados, Campina Grande é a cidade de Vital do Rêgo. Conforme já noticiado aqui no dia 3 de junho, o senador vinha se considerando atraiçado pelo PT no seu reduto, onde responde pelo cargo de prefeito o irmão Veneziano Rêgo.
Há oito anos no poder, o pemedebê Veneziano governou com o apoio do PT. Para o certame eleitoral de 2012, lançou como candidata à sua sucessão Tatiana Medeiros, que ocupava a secretaria municipal de Saúde. Para desalento dos irmãos Rêgo, o PT pôs-se a flertar com a adversária Daniela Ribeiro. Até a Lula o senador Vital já havia recorrido para tentar reverter a "traição".
Porém, a repórter Eugênia Lopes informa: nesta quarta (20), Rui Falcão, presidente do PT federal, comunicou a Vital que o petismo de Campina Grande selou a parceria com a irmã do ministro. Coisa sem volta. Já foi inclusive indicado para vice de Daniela o companheiro Peron Japiassu.
Acompanharam Falcão na conversa com Vital o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), e o relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha (PT-MG). Sem tato, o líder Tatto traduziu o movimento: "O fato de o ministro Aguinaldo Ribeiro ter ajudado a resolver a questão da eleição em São Paulo tem que ser levado em conta."
Dono de certa vitalidade, o senador Vital abespinhou-se. Não parece lá muito disposto a levar em conta as conveniências de Maluf e de Haddad. Muito menos as do rival Aguinaldo e de sua irmã Daniela.
Com receio de que a animosidade de Vital se reflita na condução dos trabalhos da CPI do Cachoeira, o PT acena, desde logo, com o apoio à candidatura do senador ou do irmão Veneziano ao governo da Paraíba.
O diabo é que a cadeira de governador só entrará no jogo em 2014. Os irmãos Rêgo olham ao redor, percebem que dois anos em política são uma eternidade, remoem a perfídia do PT após oito anos de parceria municipal e se perguntam: será?
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.