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Presidente do Paraguai iguala queda de Lugo à de Collor e quer ‘normalizar’ relação com Brasil

Josias de Souza

14/07/2012 19h18

Federico Franco, o novo presidente do Paraguai, comparou a deposição de Fernando Lugo ao afastamento de Fernando Collor, em 1992. "Aqui, houve um juízo político. É o mesmo impeachment que foi feito a Collor, no Caso Collor, no Brasil", disse.

Ele afirmou que trabalha "para que as relações" entre Paraguai e Brasil, hoje estremecidas, "melhorem". Deseja que, "daqui para a frente, se normalizem." Fedrico falou ao repórter Léo Gerchmann. As perguntas lhe chegaram por escrito. As respostas foram dadas em áudios enviados por e-mail.

Afora os "vínculos muito sólidos" que unem Paraguai e Brasil, Federico mencionou duas razões adicionais para que os dois países devolvam o relacionamento aos trilhos da normalidade: "a presença de 500 mil paraguaios de origem brasileira que vivem e trabalham no meu país" e "a presença de cerca de 100 mil paraguaios que estão radicados em diferentes locais do Brasil".

Tachou de Reafirmou "ilegal, injusta e ilegítima" a suspensão do Paraguai do Mercosul. Reafirmou que também foi "ilegal" a admissão da Venezuela no bloco, feita à revelia do Paraguai. A entrevista, disponível aqui, vai reproduzida abaixo:

— O senhor já fez contato com alguma autoridade brasileira desde 22 de junho, quando assumiu a presidência?
Não. Não tive ocasião de falar com autoridades do Brasil.

— No Brasil, dizem que a presidente Dilma Rousseff foi determinante para que não houvesse sanções econômicas contra o Paraguai — como seria a intenção da Argentina —, em razão das relações estreitas entre os dois países. Por isso, agiu com mais discrição que a Argentina. Como o senhor vê isso?
Não tenho conhecimento, não tenho ideia. Não participamos da reunião de Mendoza. Logo, não temos conhecimento do que realmente se passou. Com o Brasil, temos vínculos muito sólidos, a construção de Itaipu [hidrelétrica binacional], a Ponte da Amizade [que une os dois países nas cidades brasileira de Foz do Iguaçu e paraguaia de Ciudad del Este], a presença de 500 mil paraguaios de origem brasileira que vivem e trabalham no meu país, a presença de cerca de 100 mil paraguaios que estão radicados em diferentes locais do Brasil e uma história de tradição, de laços de amizade que sempre tiveram os povos de Paraguai e Brasil. Vamos trabalhar para que as relações melhorem e, daqui para a frente, se normalizem.

— Se em termos econômicos não houve punições, em termos políticos o Paraguai foi suspenso do Mercosul. O que o senhor acha disso?
A suspensão é absolutamente ilegal e injusta e ilegítima. Foi feita sem o legítimo direito de defesa.

— Dizem que houve um golpe parlamentar no Paraguai com o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo. O que o senhor diz disso? Negativo. Não. Aqui, houve um juízo político. É o mesmo impeachment que foi feito a Collor no Caso Collor, no Brasil [o afastamento do ex-presidente Fernando Collor, em 1992]. Nossa Constituição estabelece os passos que devem ser dados em um juízo político.

— O ex-presidente Lugo teve menos que dois dias para se defender das acusações, em um processo de 31 horas. Houve direito de defesa no seu caso?
Foi dado o direito de defesa ao acusado. Abriu-se um prazo para as alegações. Foi um processo absolutamente constitucional.

— E a inclusão da Venezuela no vácuo do Paraguai (Brasil, Argentina e Uruguai decidiram aceitar a entrada do país de Hugo Chávez, que vinha sendo negada pelo Congresso paraguaio), provocado pela sua suspensão? Como o senhor vê isso?
Foi uma decisão tomada também de forma ilegal e injusta pelos outros países sócios do Mercosul. O Paraguai já apresentou seu protesto, que está nos tribunais do Mercosul. Assim, o tempo vai definir essa situação.

— Mediante essa situação, o senhor vai buscar mercados alternativos ao Mercosul?
Não, porque não houve qualquer sanção econômica. Em um período de 14 meses [o tempo que Franco terá de governo, entre o impeachment de Lugo e as próximas eleições presidenciais], é muito difícil tomar uma decisão. Seguramente, o próprio governo, seja qual for o político que seja o presidente, vai tomar uma uma ou outra decisão.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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