Planalto eleva sua oferta, chega no preço da oposição e destrava votações no Congresso
Josias de Souza
17/07/2012 02h31
Em matéria de Congresso Nacional, quando você não entender nem os fatos nem as versões e tiver de explicar os fatos e as versões, a saída é simples. Esqueça as utopias, despreze as ideologias e concentre-se na única verdade absoluta: não há no Legislativo nenhuma virtude que resista à liberação de um punhado de emenda$.
Na semana passada, Dilma Rousseff autorizara a ministra Ideli Salvatti, gestora do balcão, a liberar R$ 4,5 milhões em emendas para cada congressistas do seu conglomerado. Desatendida, a oposição atravessou no plenário uma obstrução. Travou duas medidas provisórias anticrise e a Lei de Diretrizes Orçamentárias.
O Planalto autorizou seu líder Arlindo Chinaglia a molhar também a mão dos oposicionistas: R$ 2,5 milhões por antagonista. Parte da verba saiu. Outro naco ficou na promessa. Com um aval de gogó, Marco Maia, o presidente da Câmara, conseguira amolecer PSDB e PPS. Só o DEM ainda batia o pezinho.
Nesta segunda (17), em dois lances, o governo liquidou a contenda. Num, levou ao plenário da Câmara parte de sua infantaria. Noutro, acomodou sobre o balcão mais R$ 500 milhões por cabeça. Em vez de R$ 2,5 milhões, cada oposicionista receberia R$ 3 milhões em emendas.
O compromisso do PSDB e do PPS com a unidade da oposição, já meio exausto, pôs a língua pra fora. E a firmeza do DEM dobrou os joelhos. Dilma mandou Ideli dizer que ela estava no jogo, o companheiro Marco Maia renovou o aval e a oposição entregou os pontos. Desfez a cara feia e soltou os votos. Governistas sublevados de legendas como o PR ficaram falando sozinhos.
Já na noite desta segunda (16), os deputados aprovaram uma das medidas provisórias do programa Brasil Maior. Inclui a desoneração da folha salarial e benefícios tributários para sete setores: hotéis, móveis, autopeças, naval, aéreo, call center e chips.
Nesta terça (17), vai a voto a segunda MP do Brasil Maior, um dos novo minipacotes anticrise embrulhados por Dilma. Traz no seu miolo a capitalização de três casas bancárias oficiais: BNDES, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia.
De quebra, os congressistas devem entregar ao Planalto, antes de sair em férias, a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Na próxima rodada de projetos relevantes, para simplificar o processo e facilitar o entendimento da platéia, sugere-se aos parlamentares que usem na lapela um código de barras.
– Atualização feita às 11h55 desta terça (17): Bem azeitado$, os deputados concluíram na manhã desta terça-feira a votação da segunda medida provisória do programa Brasil Maior. Agora só falta a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias).
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.